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7 de setembro


Para mim, o que importava naquele 7 de setembro de 1966 é que eu iria desfilar de calça cáqui (curta) e camisa branca, ambas muito bem engomadas, pelas ruas de Feira de Santana. Com meus sapatos Vulcabrás pretinhos e novinhos, seria visto e aplaudido com orgulho por minha mãe e irmãos, com admiração pela garota do colégio que eu paquerava sem ela saber, e até com inveja pelos amigos do bairro da Queimadinha. Durante a preleção, no pátio do Ginásio Municipal Joselito Amorim, o professor de Organização Social e Política lembrou a importância da efeméride, encheu de glórias e loas o príncipe regente Pedro I, nos fez cantar o belíssimo Hino da Independência e, por fim, mostrou que era boçal e carreirista, puxando o saco dos militares que dois anos antes deram um golpe de estado. Tocaram a corneta e lá fomos nós, orgulhosos patriotas, na caminhada cívica em homenagem à Nação e honra ao nosso colégio, pelas ruelas de calçamento irregular, sob um sol de rachar coco. No meio do desfile, fui traído pelo Vulcabrás que engraxei com tanto carinho. As bolhas que já viravam feridas no calcanhar me fizeram sentar no meio-fio, entre triste e envergonhado, enquanto o meu pelotão seguia a retumbante marcha. Como desgraça pouca é bobagem, ainda fui flagrado na condição humilhante de desertor pela menina que eu paquerava. De pé, diante de mim, olhando com cruel indiferença, perguntou:     – Cansou, foi?     Aprendi duas lições: não confie demais na fidelidade dos sapatos nem na solidariedade das mulheres. Ou vice-versa