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A alegórica viagem de três feras


Naná trazia do Recife a sua percussão singular, com a qual bolava efeitos mil; em São Paulo, Zeca o esperava com violão, guitarra, cavaquinho, ukulele e teclados, e Paulo com baixo, u-bass (mistura de ukelele com baixo, só que menor e mais grave que este), violão, guitarra e teclados. 

Nascia o CD Café no Bule (Selo SESC-SP).Mas quem disse que pros três foi fácil limitar o número de sonoridades apenas às de seus próprios instrumentos? 

Pois é: convites para participações especiais foram expedidos para Adriano Magoo (piano e acordeom), Aisha Lourenço (sampler e percussões adicionais), Junior Mouriz (violino e harmônica), Webster Santos (violão e cavaquinho), Tiquinho (trombone), Jorge Ceruto (trompete), Hugo Hori (sax tenor e píccolo), Lui Coimbra (cello), Tuco Marcondes (guitarra) e Sidmar Vieira (trompete e flugelhorn), além de um coro feminino, Luz Marina, Vange Milliet e Tata Fernandes, e outro misto, Yuri, Sara, Gabriel e Pedro.

Incluindo três vinhetas, Café no Bule tem músicas de autoria conjunta de Naná, Zeca e Paulo (menos uma, “Caju”, de Naná com Vinícius Cantuária), que revelam a extraordinária diversidade da música brasileira, notadamente a nordestina. 

Ainda mais quando multiplicada sua força rítmica, quando misturadas entre si e entre outros gêneros, nacionais ou estrangeiros! O suingue nos atrai do início ao fim.Solada por Zeca (o canto ora é conjunto, ora é solado), “Ciranda da Meia-Noite” tem um refrão formidável, o que dá à música um toque contagiante. Aliás, refrões populares e comunicativos são o que não falta no CD. 

As congas se juntam ao violão, ao trompete – tocado à la mariachi – e ao coro feminino. O balanço é firme.A percussão inicia “A Dama do Chama-Maré”. Trompetes e sax, num arranjo de Tiquinho, dão ao afoxé, com vestígios de música caribenha, uma pulsação de arrepiar.“Vou de Candonga” é um semba (gênero tradicional angolano). Aproveitando um groove composto mas não aproveitado, este semba abrasileirado certamente tem a força que Naná, Paulo e Zeca sonharam ao se unirem. 

A percussão arrepia. O violino dá um toque sutil ao suingue. O coro reforça a vivacidade dos versos... Só quem está dormindo pesado não se levanta e... ‘semba’. Ui!Arrebatado, reproduzo agora a letra da última vinheta do CD: Ma chéri/ À bientôt/ Pour le monde/ Je pars/ Bonne chance/ Pour Naná/ Lepetit et Zeca.Viva os que nos dão sua arte.

Aquiles Rique Reis, músico e vocalista do MPB4