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A apetitosa música de Lucina


Lucina, dona da voz, senhora do canto, teu destino é ser cada vez mais canção. Totalmente música pop, brejeira, Lucina encontra na parceira Zélia o elo que parecia perdido, distante, voando no tempo que já vai longe, que já vai além. Nove faixas! Nove inéditos motivos para se ouvir algo instigante e simples, impressionantemente relevante. Música apetitosa a nos aguçar sentidos não usualmente referentes à audição. Harmonias de intensa presença, resvalando sob melodias que deslizam entre sílabas e rimas.Letras que Zélia escreveu com a doçura de uma confeiteira que conhece o ponto do açúcar mascavo, do cravo-da-índia, do anis e da canela em pó, quando se ajuntam para virar iguaria de mais sabor.Nei Marques, violonista e guitarrista, é o diretor musical que acendeu a luz para clarear pontos em que se poderiam notar alguma obscuridade musical. Clareza obtida com sons rigorosamente escolhidos, preciosamente garimpados nos veios da concisão. A bateia do músico deixou passar as sobras que pouco acrescentariam ao resultado musical final; restou o sumo da obra.O baixista Bosco Fonseca deu o ar de gravidade sonora que, por vezes, a música de Lucina e Zélia deseja para melhor agradar aos ouvidos. De suas cordas partiram marcações que suingaram o que precisava de balanço, mexeram no que cabia ser incrementado, amaciaram o que carecia de doçura.As percussões dão pinta do que a música gosta para ser ainda mais formosa. André Rass, Décio Gioielli e Zé Antonio se valem delas para criar climas que facilitam a percepção das músicas registradas em + do que parece.   Lucina tem a voz grave, suave. Seu jeito de cantar a diferencia. Seu violão a amplia. Sua música a veste de fantasias com as cores vivas do arco-íris que vem após o temporal. Seu carisma a impulsiona.“Olhos de Marte” tem os violões de Lucina e de Nei dedilhando a introdução. O baixo tem parcimônia quase cerimoniosa para marcar. Os violões continuam num intermezzo em que Lucina faz vocalises.Tetê Espíndola tem participação em “Dias e Noites”. Junto com Lucina, forma um duo que brilha enquanto a guitarra se evidencia. Tetê, Alzira Espíndola e Lucina integram um trio vocal de respeito para interpretar “Na Areia”. O baixo se destaca e a todas conduz.“Tomzé” mostra Lucina africanizando a levada com o som percussivo do djambe, o que dá mais gostosura a homenagem de Zélia a Tom Zé. Dela, junto com Lucina, participam Anelis Assumpção e Luz Marina. Elas que bisam a participação em “Sem Suspiros”.“Fim” fecha o CD com a voz e o violão de Lucina, e somados à kalimba deixam no ar um sabor de festa, como se celebrassem o fim duma jornada de trabalho que resultou no flash do talento que, vira e mexe, volta para nos arrepiar os pelos e para nos saciar o apetite por novos sabores.Aquiles Rique Reis, músico e vocalista do MPB4