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A cada poema, sua música; a cada sílaba, sua nota


Conhecedores da poesia de José Chagas, Zeca Baleiro e o poeta maranhense Celso Borges convocaram uma turma de compositores para musicarem poemas previamente escolhidos por eles. O poeta pop, emoldurado por música igualmente pop, fez-se ainda mais especial.

A Palavra Acesa (Saravá Discos) é o CD com o qual foi prestada uma tão rica quanto merecida homenagem à poesia de José Chagas. Assim como seus versos, as melodias foram criadas dentro de uma concepção absolutamente contemporânea, por vezes beirando o experimentalismo. Quando abraçada por instrumentos, a poesia decola como se ganhasse asas. Musicada, ela, a poesia, acende as palavras e abrasa seus significados.

O encarte indica ao lado do título de cada poema o livro de onde ele foi extraído e o ano de sua publicação. A primeira faixa tem José Chagas recitando “Poema I”: No alto dos mirantes/ Me fiz e desfiz/  Soprai-me, brisas errantes/ Sobre toda São Luís. Tuco Marcondes dedilha no violão uma pungente trilha sonora concebida por Zeca Baleiro.

O  paraibano Assis Medeiros musicou e cantou “Os Canhões do Silêncio”: Sou o que atira sua impureza/ De encontro à ira da carne acesa. Seu arranjo valoriza a bela melodia.

“A Cidade Era Feita de Poesia” foi musicado por Chico Saldanha, que se juntou a Tássia Campos para cantá-lo. Seu arranjo embala o baião com violão de sete, acordeom e percussão.

“Campoema” tem melodia, arranjo e interpretação de Cesar Teixeira. Do som lamentoso do acordeom e no ponteado do violão de sete, ele tira apoio para os versos de José Chagas: Eu sei de tua foice, tua enxada/ De tuas mãos cavando a terra alheia/ De teu suor, da lágrima deixada/ Em cada pedra e em cada grão de areia.

Fagner e a cantora portuguesa Susana Travassos cantam os versos de “Noturno Nº 2”, musicado por Zeca Baleiro. Com produção de Tuco Ferraz, lá estão violão e requinto, apoiados na percussão, a acender as palavras: Repousa agora o meu verso/ No dormir de quem não dorme/ O rato rói o universo do meu quarto/ A noite é enorme.

Os versos de “A Cidade”, musicados e arranjados por Beto Ehongue, são cantados com Dicy Rocha. É o arranjo mais roquenrol do CD. O mesmo se dá com “A Palafita”, musicado por Fernando Filizola e Toinho Alves e cantado por Lula Queiroga e Silvério Pessoa, quando a guitarra e o baixo dão peso roqueiro ao baião.

“Sobrado”, musicado por Chico César e cantado por ele e Ednardo, tem versos que brincam de fazer jogo com as palavras: Da Cidade/ Cidade/ Idade/ Ida de/ Tempos e templos.

Tenha certeza, meu caro leitor, de que A Palavra Acesa é um álbum requintado que merece ser admirado. Como escreveu José Chagas no final do poema “A Ceia do Mundo”: A mesa está posta. Sirva-se à vontade, encante-se.

Aquiles Rique Reis, músico e vocalista do MPB4