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A cantora e o poeta


Deus quando uniu minha alma à tua/ Me deu também de presente a paz/ E a tua poesia traçou o caminho/ Pro samba que faço/ Quem pode ser mais feliz que eu?/ Quero viver sempre ao teu lado, anuncia a cantora.

Só cantar é que ameniza/ O pranto de quem ama/ Se um amor desfaz na brisa a ilusão/ Só um verso acende a chama do perdão/ Foi isso que aprendi cantando samba, propala o poeta.

E assim, engrandecidos pela amplidão do amor, a cantora e o poeta propuseram-se a louvá-lo. Dessa aliança nasceu o ótimo Candeia Branca (Acari Records), CD da cavaquinista e compositora Luciana Rabello, primeiro trabalho em que ela também canta. O disco tem catorze músicas, sendo que treze são parcerias de Luciana com o poeta Paulo César Pinheiro e uma é apenas dela – de onde extraí o verso que está no segundo parágrafo deste texto.

O poeta está em plena forma, construindo frases de sabedoria exemplar. Amparadas pelas melodias concebidas por Luciana, em sua maioria em tons menores, os versos giram com lucidez. Sem se ater a dogmas, as palavras do poeta contemplam sua vivência. Sua familiaridade com a música lhe permite escolher palavras que por si só já têm sonoridade embutidas.

Boa cantora a Luciana. Sua voz nasalada sai-se bem nos graves; com um timbre agradável, as palavras ganham valor. Sua musicalidade de instrumentista facilita as interpretações, acrescentando sabor às divisões dos versos.

Com produção musical de Luciana e Mauricio Carrilho, grandes instrumentistas estão no CD. Destaque para os percussionistas Victor Alvim, Paulino Dias, Marcus Tadeu, Magno Julio e Celsinho Silva – cabe a eles o sabor da levada de samba, de baião, de ciranda e de maculelê presentes no CD.

E podemos destacar também  o violão de João Lira, de Glauber Seixas e de Mauricio Carrilho, o cavaquinho e o violão de Luciana, o cavaquinho de Ana Rabello, o sete cordas de Julião Pinheiro e de João Camarero, o violão e o canto de Dori Caymmi, o piano de Cristovão Bastos, o clarinete de Pedro Paes, o cello de Marcus Ribeiro de Oliveira e de Hugo Pilger, o trompete de Nailson Simões e o Regional Carioca, além de um coro misto.

Uma referência especial à mixagem, muito bem arranjada por Amaro Moço, e à caprichada masterização feita por Alexandre Hang. Outra menção é quanto à beleza da foto de Luciana e Paulinho Pinheiro tirada por Wilton Montenegro, estampada no encarte.

E assim, juntos como na vida, a cantora e o poeta criaram um trabalho íntegro, que transpira brasilidade. A música está inteira em Candeia Branca, tanto nas composições e na voz de Luciana Rabello quanto nos versos do poeta Paulo.

Aquiles Rique Reis, músico e vocalista do MPB4

PS. Com a morte do querido Jair Rodrigues, a MPB perdeu um pouco de sua graça.