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A diversidade da música pelos jovens do Coletivo Charanga


Numa dessas ações, dada pela Associação Comunitária Despertar, surgiu o Coletivo Charanga. Trabalhando com a comunidade do Jardim Miriam, na zona sul de São Paulo, e sob a direção do músico Maurício Alves (Mestre Ambrósio), o grupo se vale da diversidade musical para estabelecer conceitos de cidadania e desenvolver a auto-estima na moçada. Até aí, tudo bem, assim (quase) sempre é. Mas o Coletivo foi além. Chegou a tal ponto a musicalidade dos moços e moças que rendeu o CD Charanga Tá Chegando (Despertar/MCD). E 27 alunos participaram da gravação, sob a direção musical do mesmo Maurício Alves, que também criou programações, cantou e tocou percussão.Produzidos pelo tão experiente quanto competente Beto Villares (que participa cantando a sua “Mundinho Azul”), o álbum teve as participações especiais de Nelson Triunfo, ele que é um dos precursores do hip hop no Brasil, cantando a sua “Rima Ancestral”: “Quem foi que falou/ Que o repente e embolada não é rap?”. Anelis Assumpção, Céu e Curumim estão no coro de “Canto das Três Raças” (Mauro Duarte e Paulo César Pinheiro), e Sérgio Cassiano, um dos Mestre Ambrósio, participa da sua “Na Maré Cheia”. A força musical do trabalho está no repertório e na percussão. O pandeiro e o xequerê, a alfaia e o repique, o surdo de virada e o agogô, pelas mãos acesas dos amadores do Coletivo Charanga, se prestam ao maracatu e ao samba, ao funk e ao hip hop. E ao tocarem o que aprenderam a sentir como música sua, o fazem emocionante e emocionadamente. Noves fora as conhecidas “Canto das Três Raças”, sucesso de Clara Nunes, “Olhos Coloridos” (Macau), sucesso de Sandra de Sá, e o clássico “Muié Rendeira” (Zé do Norte), as outras são músicas pouco conhecidas, o que dá ao CD ares de bem-vinda renovação. Belo trabalho!Aí, minha tia, segura a ponte que a chapa tá quente. Aí, meu tio, agarra a peruca pra ela não voar. O bagulho tá doido, o bonde vai passar. Arrasta a cadeira, afasta a mesa, segura pra não cair. Requebra o esqueleto e afina as orelha que é pra “mode” “meió” ouvir. Se atraca nas mina e rola que rola; se achega nas gata e rala que rala. Mão na coisa, coisa na mão, o funk tá brabo, hoje vai ter arranca-rabo. Vem, mano! É só chegar meu “broder”, vem pra cá “desestressar”. No suingue do hip hop e na malícia do rap eu tô. No improviso da embolada eu vou; no samba eu também tô. Na roda eu giro, estou em todas, nelas todas estou, até do maracatu agora eu sou. Se liga, galera, o bicho pega. O pancadão tá rachando, o ouvido tá ardendo, o coração tá fervendo e a brasa tá assando no quentinho da tua mão. Segura a onda, sangue bom, firma o ponto que o som tá botando pra subir e a Charanga tá chegando pro terreiro explodir.Aquiles Rique Reis, músico e vocalista do MPB4