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A essência de Guinga e Paulo Sérgio Santos


Juntos e “ensaiando há dezesseis anos”, o resultado desta união já era previsto desde que o primeiro som musical foi ouvido pelo primeiro ouvido sensível disponível sobre a face da terra.Paulo Sérgio Santos é um dos maiores clarinetistas do mundo. O sopro saído de seu instrumento é como o do som da brisa estendendo o belo sobre a vida, tornando-a imaginável e boa. As chaves de sua clarineta abrem portas e descortinam infinitos horizontes musicais. Sua respiração, tão farta, faz com que prendamos a nossa para melhor ouvi-lo.Há tempos, comentando o CD Casa de Villa, então recém-lançado por Guinga, constatei: “Sua música é larga – às vezes sinuosa feito estradinha de terra do interior. Música feita de subidas e descidas quase sempre íngremes, mas sempre com pequenas retas para descanso, após tantos volteios. Viaja-se por sua aptidão musical como se não houvesse compromisso de alcançar o destino final, mas sim sentir cada palmo de estrada percorrido, vendo paisagens surpreendentes a cada curva rodada, a cada lombada saltada”. Agora nos cabe aproveitar este que é, sem dúvida, até aqui, o principal lançamento instrumental do ano. Para Paulo e Guinga a música não tem amarras. Eles a criam como filhas e as dão ao mundo para que vivam e espalhem benfeitorias em forma de sonoridade paridas de mãos e de dedos generosos.Em Saudade do Cordão reinam o belo violão de Guinga e a invencível clarineta de Paulo. E em cinco delas há o apoio da bateria de Jurim Moreira, cuja atuação engrandece a comunidade dos bateristas, tamanha a categoria com que toca. No álbum, plenamente instrumental, coube a Lenine emprestar a voz à única música cantada, “Saci”, obra-prima de Guinga e Paulo César Pinheiro, cuja introdução refaz “Trilhos Urbanos”, de Caetano Veloso.A buliçosa “Di Menor” (Guinga e Celso Viáfora) tem o violão e a clarineta em desenhos de insuperável riqueza melódica. “Por Trás de Brás de Pina” (Guinga e Mauro Aguiar) tem a performance da clarineta amparada pela levada segura do violão e pelo pulso firme da bateria. Única música inédita do CD, “Saudade do Cordão” (Guinga e Pedro Carneiro) é delicada, feita como que para demonstrar as possibilidades infinitas nascidas das harmonias de Guinga.Para finalizar, incluindo Paulo Sérgio Santos, irei me valer do que já disse sobre Guinga. Ao ouvir os dois em Saudade do Cordão, impossível não ser tomado por outra dúvida: será mesmo que são apenas sete as notas musicais? Com um universo sem limitações, suas criações não respeitam contorno. Para eles, dós, rés, mis, fás, sois, lás e sis são trampolins dos quais se valem para mergulhar na profundeza de seus talentos.Aquiles Rique Reis, músico e vocalista do MPB4