Loading...

A força da criação coletiva


Para gravar este disco, novamente tiveram importante participação o compositor Renato Martins, o letrista Roberto Didio e Edu de Maria (que tocou violão e fez o arranjo de uma das músicas do primoroso repertório), além de Anabela, que participa cantando com Gabriel uma das catorze faixas do álbum. O jovem violonista Patrick Ângelo completa o quarteto da hora.Gabriel, compositor de três faixas, cantor jovem, amadurecido, com vozeirão cheio e afinado; Renato e suas dez melodias; Patrick, com violões de seis e sete cordas e com doze arranjos; e os versos de Roberto Didio, sempre inspirados e envoltos em sábias fantasias - tudo foi gravado com esmerada competência.Para ampliar a rica musicalidade, também estão presentes a virtuosa cavaquinista Ana Rabello e os jovens Marcus Thadeu e Magno Souza, que seguram o batuque. Já Jorge Alexandre, Zero e Roberto Amaral completam o naipe rítmico. A harmonia tem o reforço eventual do bandolim e do arranjo de Luis Barcelos, do violão tenor e do bandolim de Tiago Souza e do violão de sete cordas de Julião Rabello. Todo mundo unido para tocar muito samba - quase sempre em tom menor, o que lhes dá beleza ímpar -, alguns com jeitão de terem nascido destinados à galeria dos clássicos de gênero.Como se não bastassem os ótimos arranjos, todos em perfeita sintonia com a harmonia que vestem e, às vezes, com variações rítmicas que permitem aos instrumentos de harmonia suingar junto, participações brilhantes se juntam a Gabriel Cavalcante em três dos mais belos sambas do CD. Cristina Buarque, a mãe do ouro do samba, empresta sua emoção a dois deles, "Mar Maior" ("Canoa de São Pedro/ Há de carregar meu medo...") e "Na Cantoria", ambas de Renato Martins e Roberto Didio; enquanto Áurea Martins, com sua voz bonita de fazer sangrar corações, canta, dos mesmos autores, "Muralhas" ("O desprezo é mesmo essa prisão/ Orquídea da paixão na treva/ Sem compaixão. Tem ainda Amélia Rabello, cantora de bons recursos vocais realçados pelo arranjo de Patrick, que usa apenas seu violão para acompanhá-la. E tem também Moacyr Luz em duas parcerias com Roberto Didio: "Quando o Samba Veio Me Buscar" e "O Cio e a Paz".   Para fechar o trabalho coletivo, a conclusão não poderia ser mais adequada, os integrantes se unem a Gabriel, cada um cantando uma frase de "O Fino da Vida" (Didio e Martins): "(...) Amigo é o fino da vida/ É só o que vai ficar pelo salão (...)".E tem muito mais neste trabalho burilado a partir da percepção de que a união de talentos é o que dá mais força e impulsiona de forma ainda mais consistente a criatividade e a diversidade da música brasileira.Aquiles Rique Reis, músico e vocalista do MPB4