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A força do samba carioca


Fui ao encarte. Pois bem, lá estava o texto de apresentação escrito por Sérgio Cabral, era como se suas palavras se dirigissem diretamente a mim: Pergunto a você que pensa saber tudo da música popular brasileira: conhece Guadalupe da Vila? Fácil, certo? Errado, pois somente agora, mais de seis anos depois da sua morte, uma boa parte das músicas dele chega ao conhecimento do público, graças à iniciativa da cantora Christina Paz, que, por coincidência, feliz para todos nós, é sobrinha dele. Mas não fique triste por somente agora tomar conhecimento da existência dele. Afinal, é provável que você também não soubesse da existência de Clementina de Jesus e de Dona Ivone Lara, que gravaram seus primeiros discos depois de sexagenárias (Cartola também gravou seu disco depois dos sessenta anos). Mas me permita manifestar a convicção de que, ao ouvir as suas músicas, você lamentará não tê-lo conhecido antes.Boa, Sérgio! Felizmente existem pessoas como você, Hermínio Bello de Carvalho, Pelão (João Carlos Botezelli) e outros para jogar luz onde as trevas do desconhecimento tentam fazer morada.Fui às doze faixas do álbum. Pena eu não ter ouvido o repertório que lá está há mais tempo...Hilton Alfinito, o Guadalupe da Vila, nasceu em Vila Isabel. Integrante da ala de compositores e, posteriormente, da velha guarda da escola de samba que dá nome ao bairro, é um dos bambas do samba. Compositor com alma carioca, as músicas de Guadalupe têm nobreza à flor da pele. Seus sambas em tom menor (quando o gênero ganha ainda mais beleza), à semelhança dos de outros mestres, são de bela feitura. Com jeito simples de fazer música e letra, criou obras de vasta qualidade harmônica e melódica.  Para cantar tanta beleza, Christina Paz se vale de sua voz correta e canta com o coração na alma. Estudos musicais deram-lhe a segurança necessária para superar pela emoção uns poucos deslizes.Com arranjos do baterista César Machado (ele também assina a direção musical), participação especial do piano de Cristóvão Bastos, cavaquinho de Higor Nunes, bandolim de Marcilio Lopes, violão acústico de Fernando Carvalho, baixo de André Dantas, piano de Alberto Farah, baixo de Jimmy Santa Cruz, clarinete de Leo Fuks, flauta de Franklin da Flauta e Tinho Martins, além da flauta e do sax tenor de David Ganc, mais um coro, a música de Guadalupe na voz de Christina se mostra íntegra e relevante em todo o seu potencial. Um belo CD. Eis Guadalupe da Vila para denotar que o samba até pode ter nascido na Bahia, como afirmam alguns, mas só se fez mais brasileiro nos morros e salões cariocas.Aquiles Rique Reis, músico e vocalista do MPB4 Para mais informações sobre o CD, escreva para: christinapazjc@hotmail.com