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A força do vocal


Eloiza Paixão, Estela Paixão, Cristiano Santos e Rafael Horta integram o paulistano Grupo Ecco, que lança o seu primeiro CD, As Forças da Natureza (independente). As irmãs Paixão são contraltos, enquanto Rafael e Cristiano são barítonos, sendo que Cristiano atinge notas mais graves.

(Ao se juntar um grupo de vozes, por mais afinadas que elas sejam individualmente, é imprescindível que se dê entre elas uma química, tão inexplicável quanto mágica. Para que a combinação de quatro ou mais vozes funcione, há que haver essa tal química; quando há, eis ali um grupo vocal).

O Grupo Ecco traz no fundo do seu canto o vírus químico do vocal. Afinadas, suas vozes timbram os acordes de forma precisa, acrescentando força aos arranjos escritos por Cristiano Santos. Os uníssonos ainda carecem de amalgamar um pouco mais a diferença de cada uma das vozes. Mas isso, para eles que são “de vocal”, não será difícil conseguir.

O álbum abre com “Sobradinho”. Cantada a capella, o sucesso de Sá e Guarabira recebe força. Entre uníssonos, os vocais vêm e vão, e arrepiam. Um solo de Rafael inicia a melodia; a voz grave de Cristiano marca o ritmo; as femininas fazem a harmonia; o solo agora é de Cristiano; solos femininos acrescentam delicadeza ao arranjo. O vocal impera.

“Espelho Cristalino”, de Alceu Valença, tem a participação deste ao lado do Grupo Ecco. Boa escolha para demonstrar a disposição do quarteto em buscar um repertório que não se prenda a um só gênero musical, nem a dogmas de arranjos – o que se confirma ao longo da audição. Agora acompanhado por percussão, violão e baixo, o Ecco viaja na onda nordestina de Alceu. Este, por sua vez, revezando os solos com os moços do Grupo, se esbalda sobre os vocais.

Talvez pela dificuldade de se encontrar uma tonalidade que seja confortável para vozes mistas, a épica canção de João Nogueira e Paulo César Pinheiro “As Forças da Natureza” está num tom difícil para Cristiano cantar logo a primeira nota da música. Por mais que um reverber tente ajudá-lo, fica nítido o desconforto na emissão da nota, ainda mais porque ela é longa. O arranjo começa a capella, intercalando um solo masculino com um feminino. Ao entrar o ritmo, a levada acelera em demasia, fazendo com que os versos fluam meio que às golfadas. As dinâmicas são realizadas de maneira eficaz.

Um acorde vocal abre a capella “Terra Desolada” (Beto Villares, Iara Rennó e Carlos Rennó), outro belo arranjo de Cristiano Santos. Heloisa Paixão canta bonito os belos versos de Rennó.

No total, são dez músicas interpretadas por quatro amantes do cantar junto. Vida longa a eles.

Aquiles Rique Reis, músico e vocalista do MPB4