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A história de cada um e as histórias de todos nós


O texto recheado de referências à cultura pop contemporânea de Gaiman conforta o leitor – e Charlie – na viagem até o universo das lendas fantásticas. Spider, que herdou do pai o poder de se assumir a forma de uma aranha, é carismático como um astro de rock. O livro é nitidamente dirigido a um público jovem, em que o narrador onisciente assume um tom de professor de Ensino Médio – que “passa a matéria”, de maneira
leve, divertida, mas nem por isso superficial. Ao contrário.

Densidade semelhante é encontrada no segundo volume da série Era uma vez na França – o voo negro dos corvos (Galera Record, R$ 55), a graphic novel de Fabien Nury e Sylvain Vallée, inspirada na vida de Joseph Joanovivi, um sucateiro judeu que fez fortuna vendendo armas para nazistas e para a Resistência francesa durante a Segunda Guerra Mundial. O personagem é fascinante por sua absoluta falta de ideais
admiráveis. Cuida da família, mas não hesita em renegar suas origens, escapando da deportação para campos de concentração, graças a seus bons contatos. Em 1949 acabou preso como colaboracionista. Morreu em 1965, três anos depois de cumprir pena. Publicada em seis volumes, lançados a cada ano a partir de 2007, a série ganhou prêmios da crítica especializada.

Creer & destruir – Os intelectuais na máquina de guerra da SS nazista (Zahar, R$ 79,90) fala sobre a mesma época, buscando compreender os motivos que levaram cerca de 80 homens de alta cultura se engajarem na disseminação da ideologia do Terceiro Reich. A participação desse grupo, composto por graduados em Economia, Direito, Filosofia, História e Linguística, em importantes funções da elite nazista é dissecada pelo francês Christian Inagrao. Além de garantirem o embasamento teórico para a política de extermínio de Hitler, eles coordenaram o planejamento de operações que levaram à eliminação de judeus, ciganos, doentes mentais e todos os que eram enquadrados na abrangente noção de “raça inferior”. O mais incômodo na leitura do contundente estudo é a aparente falta de valores morais de pessoas tão sofisticadas, que aderiram a uma causa ainda hoje tão perturbadora para a sociedade alemã.

Fruto dessa geração que carrega a culpa pelo pior conflito do século XX, o alemão Bernhard Schlink não se refere à Segunda Guerra nos personagens dos contos reunidos em Mentiras de verão (Record, R$ 35). Ambientados em diferentes locais da Alemanha e dos Estados Unidos, os contos têm como tema comum as ilusões a que nos agarramos, em busca de um sentido para a vida, evitando a solidão através de
paixões e dos mais diferentes laços familiares.

O mesmo apego demonstrado pela protagonista de Sexo (Record, R$ 25), primeiro romance da antropóloga Mirian Goldenberg, uma estudiosa da sexualidade do brasileiro. O curto texto, quase um monólogo teatral, mostra à perfeição a angústia da mulher que tece fantasias sobre a continuidade de um relacionamento iniciado – ou não - depois de uma noite de sexo
casual.