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A marcha em regresso


Não,necessidade não havia de recriar uma nova agremiação nos moldes daquelas queseduziram os moços e as moças de tempos imemoriais, nem de tentar despertar nasalmas aceleradas deste século aloprado em que vivemos a vontade alucinada de irnovamente atrás da orquestra que desfilava impávida a sua dolente cadência.Havia e há,sim, o desejo de musicar a idéia surgida em meio à cerveja gelada e ao papofurado nos fins de noite naquele boteco de Copacabana. Havia e há a musicalidadelatejante em cada alma do grupo que bebe música e tira gosto com poesia. Assim,quem poderá se impor às necessidades do coração?Entre o docemau humor de Alfredinho, tão querido quanto dono do Bip Bip, o tal boteco emCopacabana, e a roda de samba, onde o coro come e a alma bebe tudo o que trazfelicidade, a galera conversa. Gente boa que trabalha enquanto cria história aosom de tudo o que soa e ressoa pelas mãos hábeis empunhando pandeiros e violões.Vozes uníssonas a extrapolar a música composta e cantada por seus compositores eintérpretes.Nas poucasmesas do Bip está sempre presente uma pequena, porém decente multidão de algunstantos bambas que fazem o melhor pela música brasileira. Ali se cria samba echoro; ali se canta o futuro, mas também a saudade de tempos que não voltamporque se foram para dar lugar a coisas mil do Brasil musical que nunca dorme,atento que é a tudo nascido para revigorar o que se foi, mas deixou em nós amarca de uma saudade louca.Pois foi numadessas noites que o saxofonista Rui Alvim e o bandolinista Pedro Aragão, ouvindoo compositor Élton Medeiros dissertar sobre a importância dos velhos ranchos,dispuseram-se a criar um, à imagem e semelhança dos “Mimosas das Cravinas”,“Flor do Abacate”, “Corbeille de Flores” e “Ameno Resedá”, de quem Élton falou maravilhas. Foi o primeiro passo paraa criação do rancho carnavalesco Flor do Sereno.Animados,eles levaram o novo rancho às ruas de Copacabana. Porém, poucos acompanharam ainiciativa que findou não satisfazendo a necessidade de empolgação buscada hojepelas multidões que vão às ruas, arrastando cordões sequiosos por embaloscarnavalescos movidos pela estridência do som dos blocos.Mas osintegrantes do Flor do Sereno não desistiram e persistiram no sonho. Resolveramque suas atividades se resumiriam a manter a orquestra com o mesmo espírito queos levou a partirem para o desafio, acreditando que aquilo era fundamental parasua alegria.Amaterialização disso é o lançamento do CDRancho Carnavalesco Flor do Sereno(independente, com apoio da Petrobras). Contando com uma grande orquestra desopros, além de um coro, o repertório foi criado por quem crê haver, sim,necessidade de trazer de volta um momento musical que, apesar de inesquecível,já faz parte da memória afetiva dos maiores de 50 anos. Os carentes de um tempoem que éramos felizes porque sabíamos que tudo aquilo um dia trariasaudade.O CD tem 14faixas, a maioria inédita, hinos em louvor aos ranchos. Os arranjos sãoprimorosos, e as interpretações, quase sempre a cargo do coro predominantementefeminino, são, igualmente, corretas.Todos seesmeraram para resumir o que lhes dá na cuca delirante e arrebatadora.Desafiaram o tempo para se fazerem senhores da realização do sonho de trazer devolta o que se foi sem pretensão de voltar.Aí está orancho novamente!E os jovensque porventura escutarem o CD, ao sacarem a generosidade do gesto, muitoprovavelmente a retribuirão, todos gostando juntos. Aquiles Rique Reis, vocalista do MPB4 e autor de O Gogó de Aquiles, ed. A Girafa. Seus textos são publicados semanalmente no Acontece na  no Diário do Comércio (ACSP), Meio Norte (Teresina), A Gazeta (Cuiabá), Jornal da Cidade (Poços de Caldas) e Brazilian Voice (EUA). No rádio, sempre às segundas-feiras, das 15h às 16h, "O Gogo de Aquiles" vai muito bem, obrigado. Você poderá escutá-lo (no Rio de Janeiro) sintonizando diretamente na Rádio Roquete Pinto, ou (fora do Rio) na internet: www.fm94.rj.gov.br .