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A maturidade incontestável de um compositor e cantor


Com esse trabalho, o compositor, cantor e violonista belo-horizontino chegou a um estágio em que sua competência está à flor da pele, apta a atingir o momento da plenitude, a integridade tão desejada pelo músico quanto pelo seu público, todos ansiando pelo instante que definirá a ultrapassagem de ser visto apenas como uma grande promessa para a percepção de que ele chegou ao ponto só alcançado pelos bambas. À concretude: Ladston do Nascimento realizou seu rito de passagem. Amadurado, cantor de espantosos recursos vocais, artista que percebe como poucos o sentido da mineirice que corre nas veias de sua gente, transformando-a em canções que a representa e identifica, fez-se o grande compositor e cantor que muitos apostavam que haveria de ser.  Produzido por Jota Souza (que também toca piano e vibrafone, além de ser o arranjador de quatro faixas), o CD tem outros arranjadores igualmente experientes: o próprio Ladston (que também toca violão), Francis Hime e Túlio Mourão (os dois também tocam piano). Conta igualmente com uma faixa em que Ladston é o autor da música e da letra, além de parcerias suas com outros letristas/poetas: Antônio Martins, Fernando Brant e Tadeu Franco. A fim de dar vida às músicas e prepará-las para que Ladston as cantasse com sua voz de pássaro das noites de luar mineiras, grandes instrumentistas foram chamados: a bateria e a percussão de Robertinho Silva, os violões de Daniel Santiago e de Marco Pereira, as flautas de Andrea Ernest e de Dirceu Leite, o trompete de Altair Martins, os baixos de Guto Wirtti, André Vasconcellos e Pedro Aune, o cello de Iura Ranevsky, o piano de David Feldman, a clarineta de Pedro Paes e o vibrafone de Gabriel Guenther.Quem ouve Ladston do Nascimento cantar pela primeira vez espanta-se: ele canta como Milton Nascimento cantou quando subiu no palco do Maracanãzinho para defender “Travessia”, dele e Fernando Brant, em 1967. A voz de Ladston é igualmente límpida em sua agudeza, e seu sentimento transborda em delicadezas que impregnam as notas sem, entretanto, se afastar uma coma sequer da afinação.O álbum começa com “O circo do Miudinho” (Ladston e Antônio Martins). A introdução, cantada por coro misto, arrepia pela energia que transmite e também por trazer à mente outro coro, o de “Sentinela” (Milton e Fernando Brant). A percussão de Robertinho e o dedilhado do piano de Túlio Mourão dão ainda mais tensão ao canto. Ladston brilha densamente.Outras faixas vêm plenas de unidade e de deferência à música das Minas Gerais. Canções tributos de um craque à sua terra e aos conterrâneos que o antecederam musicalmente. Em Lugarzim, a música de Gladston do Nascimento brilha como o reflexo do minério faísca pelas estradas e caminhos de todos os mineiros.Aquiles Rique Reis, músico e vocalista do MPB4