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A música como herança


Suas letras indicam que ele cultua as palavras, renovando seus significados. Zeca tem singular capacidade para construir versos valendo-se de figuras de linguagem. Seus trocadilhos são infinitos. Descobrir palavras que se assemelham sonoramente parece ser seu entretenimento favorito.

Entre 1998 e 2000, quando nasceram os seus filhos Vitória e Manuel, Zeca Baleiro apontou sua criatividade para a composição de temas infantis. Desde então, mais de 60 músicas foram criadas por ele e dedicadas às crianças. Nascia o CD Zoró (Bichos esquisitos) Vol. 1 (independente): 28 temas curtos, dos quais Zeca compôs dezenove sozinho (sendo um deles a adaptação de um tema de domínio público). Outros sete fez em parceria com Tata Fernandes, além de um com Antonio Resende e outro com Claudio Thebas.

Com produção de Guilherme Kastrup, os arranjos exacerbam a criatividade dos temas. Zeca canta a maioria deles, alguns sozinho, outros com convidados: Fernanda Abreu, Tom Zé, MC Gaspar, MPB4 (orgulhosamente), Alzira E, Tetê Espíndola, Carlos Careqa e Walter Franco, entre outros.

O espírito lúdico do repertório, provavelmente, deve envolver em primeiro lugar os pais. A estes caberá estimular suas crianças para que percebam o ritmo, a melodia e as letras, plenas de ricas imagens e palavras harmônicas:

“O Ornitorrinco” (ZB e Tata Fernandes): O ornitorrinco foi ao otorrino/ Ao otorrinolaringologista.
“A Serpente Que Queria Ser Pente” (ZB e Tata Fernandes): Essa é a história da serpente/ Que queria ser pente/ Para pentear os cabelos, as madeixas.
“O Pardal” (ZB): O pardal é bom cantor/ Mas ninguém ouve o seu canto/ Porque ele canta pi... aninho.
“O Tubarão Que Toca Tuba” (ZB): Tubarão que toca tuba/ Vive lá em Ubatuba/ Em Ubatuba tem um tubarão que toca Tuba/ Toca tuba tubarão.
“Calango do Calango” (ZB): Calango quer dançar calango/ Porque não sabe dançar tango/ calango gosta de um calango/ Se esbalda em tudo que é fandango.
“Minhoca Dorminhoca” (ZB e Tata Fernandes): A minhoca dorminhoca só quer saber de dormir/ Dorme, dorme dorminhoca.
“Urso Bipolar” (ZB): Urso polar, bipolar/ Num dia é manso/ No outro feroz/ Num dia tá lento/ No outro veloz.
“Um Rato Diz” (ZB)”: Um rato diz/ - Ói/ Prum outro que rói/ Um queijo/ Cuidado com gato/ Mordida não é beijo.

Bem como a aliteração em “Onça Pintada” (ZB): Tanta pinta preta, poxa, onça!; e o jogo de palavras em “Tatu Tá?” (Domínio Público, adaptação ZB): Moço, Tatu tá?/ Tatu tá não/ Não, tatu não tá/ Mas a mulher do tatu tá/ E a mulher do tatu tando/ É igual ao tatu tá.

Zeca Baleiro para criança é música que ao mundo traz esperança e um presente que ficará como herança.


Aquiles Rique Reis, músico e vocalista do MPB4