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A música de Alzira E + a poesia de Arruda


E dizem; desdizem; e redizem. Seduzem. E reluzem. E tudo que lhes sai cabe num lapso da memória; tudo que deles vêm, vale pelo breve instante em que se revela o tanto da profundidade das sílabas e pelo tantão do resplendor dos acordes. Montões de farta música vinda da capacidade que sempre teve Alzira, e da Arruda-futura-clara-poesia posta de presente à mesa do ouvinte.Claro que você pode (e deve) duvidar, mas creia, leitor. Creia que a dúvida – decerto ela há e bem cabe havê-la – se dissipará em meio ao mínimo e ao pouco, em meio ao vazio preenchido por vagos minutos feitos de colcheias, breves e semibreves; íntegro em pausas repletas de sonoridades.nstigante compasso revelador de frutos proibidos prenhes de cóleras mil. Como que recém-saído do Graal, seu sumo febril empapa o sal da terra, e a coisa e o tal. Eira sem beira; solar sem porteira; parteira sem gemedeira; mundo velho sem porteira; zoeira sem trincheira. Encanto de primeira.Canto que se mistura à palavra. Voz que declama o canto. Verso que encanta e clama. Dois seres dispostos a serem um só. Cantoria apta a transformar a sujeira, despejada na segunda-feira, num límpido alvor de manhã na espreguiçadeira. Olhar de seca-pimenteira, que reduz a sombra da ingazeira à de uma mera touceira. Estes são a compositora e violonista Alzira E e o poeta Arruda. Juntos no lance de proporcionar a ela seu sétimo disco gravado pela [Zélia] Duncan Discos. As cordas de aço do violão de Alzira misturam seu dom às palavras do verso aberto de Arruda: “Essas roupas/ Que faço/ Rasgam fácil/ Fácil/ Nessas roupas que faço/ Rasgo/ Fácil” (“Rasgo Fácil”); “Inventa insiste e diz tolice e ri de si e se reparte e se repete e se/ Consiste/ Em algo triste/ Depois desiste/ E dita outro drama e cria fama deita na lama/ E se esparrama/ E a pele fica cada vez mais/ Bacana” (“Não Tem Limite”).O resultado da soma de Alzira E + Arruda é ouvido instigado. Legação musical, muito legal, ao futuro, distinto e diverso, que está nas mãos dos que ouvem o que a música dos dois parceiros tem a desvendar. Tudo na parceria prima pela sutileza que brota do pouco e deste se vale para multiplicar por mil um décimo do que cria magistralmente para avivar sua dissecada elegância.Os instrumentos utilizados nos arranjos são poucos: violões de aço e nylon e guitarra portuguesa, empunhados pelo também produtor musical do álbum Luiz Waack; baixo, nas mãos de Pedro Marcondes; bateria, sob as baquetas de Curumim, que também soa percussões diversas; a voz de Alzira, assim como o som de seu violão de aço; estão todos em todas as 13 faixas do CD.Em “Vai Quê”, o trombone quem toca é Totty Boné, em dupla genial com Carlinhos Alligator e seu trompete; “Tecnocólera” resfolega nos baixos da sanfona de Adriano Magoo, que se vale ainda do teclado em “Diz”, quando os tambores se somam ao baixo para a levada lavar o chão onde pisa a voz de Alzira, que canta e também faz vocalizes; a voz de André Abujamra dialoga com a de Alzira no samba “Kitnet”. Tudo popular. Tudo econômico. Tudo manifesto e dito. Tudo sabido, expresso e redito. Tudo público. Tudo pop. Tudo Alzira E. Tudo Arruda. Tudo música feita de luz e sombra; tudo criado em dias e noites dos sertões às metrópoles; tudo carregado de leveza e sutileza; tudo aceso; tudo nu, sem vestes nem panos quentes ou leves que acobertem o essencial.Aquiles Rique Reis, vocalista do MPB4 e autor de O Gogó de Aquiles, ed. A Girafa. Seus textos são publicados semanalmente no Acontece na Cidade,  no Diário do Comércio (ACSP), Meio Norte (Teresina), A Gazeta (Cuiabá), Jornal da Cidade (Poços de Caldas) e Brazilian Voice (EUA). No rádio, sempre às segundas-feiras, das 15h às 16h, "O Gogo de Aquiles" vai muito bem, obrigado. Você poderá escutá-lo (no Rio de Janeiro) sintonizando diretamente na Rádio Roquete Pinto, ou (fora do Rio) na internet: www.fm94.rj.gov.br .