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A música instrumental brasileira pelas mãos de Mario Negrão


Como todo instrumentista, Mario tocou bateria com diversos intérpretes e compositores brasileiros: Baden Powell, Carlos Lyra, Claudete Soares, Chico Buarque, Egberto Gismonti, Emílio Santiago, Leila Pinheiro, Quarteto em Cy, Paulinho Nogueira, Rosinha de Valença, Sergio Ricardo, Toquinho, Vinícius de Moraes, Tom Jobim e MPB4. Compositor, Negrão tem entre seus parceiros Paulo César Pinheiro, Cristóvão Bastos, Alberto Chimelli e Magro Waghabi e Miltinho do MPB4. Instrumentista extremamente dedicado e estudioso, Mario Negrão sempre busca ir além do que dele esperam os que com ele convivem. Foi assim quando, em 1980, decidiu que gravaria um LP só com suas composições. Jovem e obstinado, se entregou com afinco ao trabalho: para ele não bastava que no álbum estivessem apenas sua bateria e suas músicas recém-compostas. Mario voou alto. Foi voando a bordo do sonho de registrar sua ação de músico instrumentista e compositor que ele concebeu o que nortearia seu disco: reunir seus companheiros instrumentistas em torno de sambas feitos com diversos parceiros; convidar os arranjadores que com ele dividiriam a tarefa de vestir suas harmonias e melodias e, finalmente, junto com cada um deles, sacar o pulo do gato deste que é o seu único disco gravado: todos os arranjos deveriam se basear em naipes de diversos metais.Foi com esta sonoridade imaginada que ele procurou Cristóvão Bastos, a quem pediu que escrevesse três arranjos; Luiz Cláudio Ramos e Magro Waghabi, para quem encomendou dois arranjos cada; e Paschoal Meirelles, a quem incumbiu de fazer um arranjo. E há ainda uma nona faixa, "Respira Fundo", que Mario compôs com Cristóvão Bastos, cuja gravação tem arranjo coletivo e foi lançada apenas neste CD independente agora reeditado. Pronto, estava dada a senha para o início das gravações de mais um disco de música instrumental brasileira: oito sambas criados por Mario para dar asas à sua bateria, mas que têm saxes, flautas, trombones e trompetes dando-lhes ares da modernidade que chega aos ouvidos desde a primeira audição. Mario Negrão tem pulso firme. Sua pegada é forte. Seus pés dão leveza ao bumbo e ao contratempo. A mão direita toca a caixa de forma precisa; a esquerda tange os pratos; ambas passeiam pelo tarol e pelos tambores. Tocando bateria para a música, sem pirotecnias banais nem estridências desnecessárias, o músico se revela pleno.Compositor de belas harmonias, criador de melodias simples, mas poderosas, o instrumentista demonstra que sabe compor. Criativo, surpreendente, Mario faz sambas sincopados. Uns têm levada de gafieira, que ganham ares ainda mais saborosos quando lemos seus títulos: "Canela de Velho" (arranjo de Cristóvão Bastos) - samba ligeiro que tem uma ótima introdução à qual se segue um admirável solo de bateria onde se ouve mais o som das peles do que dos pratos; "João Mole" (arranjo de Cristóvão Bastos) - samba de gafieira no qual tem destaque o naipe de sax tenor (Zé Carlos), trompete (Bidinho) e trombone (Serginho); "Orelha de Onça" (arranjo de Magro Waghabi) e "Farinha Seca" (arranjo de Cristóvão Bastos) - nos dois, mais uma vez está presente o naipe de trombone, trompete e sax; "Fruta Doce" (arranjo de Luiz Cláudio Ramos) - samba que abre o álbum e, de cara, demonstra que a sonoridade dos metais, amparada no som que remete às grandes orquestras brasileiras, é ampliada pelo piano, pelo contrabaixo e pela percussão, todos levados pelas mãos de Mario Negrão, o baterista que não se contenta com pouco. Este CD, realização conjunta de músicos amigos unidos pelo prazer de tocar boa música instrumental brasileira, demonstra o quanto é pujante, diversificada e criativa a música feita pelos músicos desta terra.Aquiles Rique Reis, músico e vocalista do MPB4