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A música sem barreiras de Rafa Barreto


E o menino cresceu. Igual seu pai, fez-se músico, violonista, compositor e cantor do que vê passar à sua frente. Igual sua irmã, Luisa, fez-se frágil, mas decidido; igual sua mãe, Wânia, tem nos ombros o ser sempre mais.Entre Becos (independente) é o primeiro disco de Rafa Barreto. Em onze faixas, nove em parceria e duas com música e letra só dele, este jovem paulistano perfila sua identidade musical. Através de seu canto e de seus violões de naylon, de aço e requinto, ele dá a cara a tapa. O resultado é um trabalho com grande unidade sonora e poética.Sonoridade traduzida por levadas conduzidas pelo violão, feito em “Peito em Flor” (Rafa e Amarildo Calderoni); algumas com apoio do baixo, como em, por exemplo, “Do Pó e Nó” (Rafa Barreto); noutras, somado ao piano: “Loa Rezadeira” (Rafa e Zeh Rocha), ou junto com a percussão, “Invenção de Dondô” (Rafa e Vinicius Calderoni). Os arranjos, apoiados em boa mixagem, são dinâmicos e revelam sonoridades plenas de animação e de emoção.As letras, algumas delas, têm como intenção primeira vocalizar as levadas instrumentais. Nestas, sem um fio de enredo definido, as palavras valem pelo som que contém – ouça-se “Nem Mais” (Rafa e Fabio Barros). Todavia, não faltam versos revelando bela poética – leia-se “Urubu-Rei” (Rafa e Lique) e “Nascente” (Rafa, Thiago Rabello e Chico César). Chico, aliás, que junto com Rafa a interpreta com sentida e grande emoção.Outro grande destaque, talvez o mais emocionante, é quando Rafa canta a sua “Entre Becos”, música que dá título ao disco. Como em algumas outras faixas, ele dobra sua própria voz, dando um clima de grande intensidade dramática aos versos. Melodia rica, harmonia cheia de caminhos, letra fértil em imagens, o violão conduz numa levada de pulsar constante e vigoroso. E aí se percebe que Rafa Barreto é ótimo cantor!Sua música é sem barreiras. Desde o suingue e o lirismo, até a diversidade carregada de uma rica mixigenação de linguagens e de culturas nacionais, sua música sintetiza uma vida compreendida através da canção popular.Rafa cresceu. Criador musical valeu-se do que aprendeu e viu e foi além. E Vicente Barreto vê que seu menino cresceu, vê que seu menino se desgarrou e evolui por conta e risco próprios; sente a diferença, mas se reconhece em seu menino. Sorri ao sacar que o cara cresceu e que tende a ultrapassá-lo, pois nele enxerga a paixão da felicidade a que a música leva. E chora.E o menino cresceu, trazendo em si a mão direita de seu pai. Carregando no peito, tal seu pai, o jeito de compor melodias ricas em plenitudes, de se valer de harmonias cheias de requintes e popularidade. Pai e filho com alma musical brasileira.Aquiles Rique Reis, músico e vocalista do MPB4