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A música sem fronteiras de Wagner Tiso


“Shiny Stockings” (Frank Foster e Jon Hendricks). As cordas soam bonito, o piano se sobressai. Vêm os sopros, e tem o baixo, a bateria, a guitarra. E aí vem o sax tenor de Marcelo Martins. Piano e guitarra estão juntos, feito a dama e o cavalheiro que lépidos rodopiam no salão. “Opinião” (Zé Keti). Hermeto Pascoal e sua flauta tocam para nos lembrar que o Zé é para sempre. E ele vem a bordo de piano, bumbo e tamborim. A flauta é mágica. Pudera, ela é soprada por Hermeto. O final é digno do solista que brinca enquanto seduz. “Naima” (John Coltrane e Jon Hendricks). Nivaldo Ornelas é o sax. O quarteto de sopros se entende às mil maravilhas com os quatro das cordas. O piano está forte e presente. E o sax de Nivaldo é oferenda aos que só querem o melhor.“Samba de um Grande Amor” (Chico Buarque). O pandeiro se entende com as cordas. Vem o bandolim vivaz de Hamilton de Holanda. O tamborim se dá conta de que tem de dar peso à guitarra e ao piano e não foge da raia, ainda mais que tem a bateria, o baixo, as cordas e os sopros a ajudá-lo.Mais três canções norte-americanas; à frente, outra: “April in Paris” (Vernon Duke e E. Y. Harburg), no piano solo, Wagner Tiso. Deus do céu!Ari Barroso na veia: “Inquietação”/“É Luxo Só (com Luiz Peixoto). Sabe de quem é o clarinete? Paulo Moura! Junto com as cordas ele vai até que tudo se interrompa e o piano toque. As cordas contribuem para a pegada e o baixo marca o pulsar de música que Tiso veste com sua imensa brasilidade.“Tune Up” (Miles Davis). As cordas dos violoncelos e das violas se fazem íntimas do piano, da bateria, do baixo elétrico, piscam para eles... Mas só até ouvirem o que tem a dizer a guitarra de Victor Biglione. Santo Deus, que paixão elas devotam à pegada do cara. “Quando o Samba Chama” (Paulinho da Viola). O piano de Tiso começa e o oboé de Carlos Prazeres está lá para demonstrar que, tanto quanto o violão de Lula Galvão, tudo pode dar num bom samba. O baixo pulsa, a bateria conduz, as cordas envolvem, o violão sola, o piano responde, a guitarra, também nas mãos de Lula Galvão, é luxo só.“Folhas Secas” (Nelson Cavaquinho). Mais uma vez o violino dá as cartas. O piano também sola. E tudo ali contribui para dar à obra prima um valor ainda maior.Na despedida, o brilho de “Solar” (Miles Davis), com solo luminoso de Victor Biglione. As cordas começam tudo e o suingue se amplia com piano, baixo e bateria.Assim é Samba e Jazz – Um Século de Música (selo Trem Mineiro, patrocínio da BB Seguro Auto e copatrocinado pela Cemig), CD para o qual Wagner Tiso criou 12 belos e arrojados arranjos e orquestrações, o terceiro de um musical que começou a ser criado há 12 anos.Aquiles Rique Reis, músico e integrante do MPB4