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A música voa na voz de Rosane Duá


Apoiada em arranjos corretos do violonista e guitarrista Theo Santos, buscou um repertório no qual se sobressaem justamente as canções de que é autora – quatro em parceria, duas com Rogério Lippi (“Perfume da Noite” e “Mel Escorpião”), uma com Theo Santos (“Guardião da Lua”) e uma com Mingo (“Guerra de Valores”). E duas só dela, “Olhar de Ciúme” e “Senhora da Serra”. Destacam-se ainda “Você Me Deixa Comigo”, de Theo Santos e Juca Filho; e Jorge Vercilo e Jota Maranhão, presentes com a inédita “Nunca Mais”, escolhida para abrir o álbum, bem como a regravação de uma antológica de Chico Buarque, “Construção”.   Com músicas emolduradas em viva personalidade musical e afetiva, Todos Nós soa impregnado de frescor musical. Para tanto contribui a aguçada sensibilidade de Rosane Duá. Ela que, com seu cantar, dá às letras o sabor que precisam para representar o universo cotidiano de uma mulher que demonstra saber o que quer da vida e a (en)canta com toda a força de sua feminilidade. Do rap ao baião, do pop à balada, da bossa nova à canção, Rosane voa por diversos estilos e em todos se mostra firme, convicta de suas possibilidades e qualidades.        Com ótima afinação – notadamente nas saídas das frases melódicas, quando as notas finais têm arremate digno de um ourives –, Duá parece cantar para ser feliz. E se de fato assim é, a felicidade está com ela. Na reflexão mais profunda ou na fantasia mais absurda, tudo o que canta vem como um recado: “Ouçam-me e decifrem-me.”Sua voz que voa por entre nuvens carregadas de emoção nos traz “Senhora da Terra”, hino de amor à própria mãe: “(...) Carrega tanto fardo, nem atriz, nem cantora/ A fiel, dominadora, a esposa infeliz/ Mas eu sei o que lhe importa, eu sei o que lhe guia/ Sua prole que deu cria já foi tudo o que quis (...)”. Sua voz, num canto para resgatar laços e desprender amarras, entoa a canção de ninar que renova o amor por seu pai: “(...) Guardião da lua/ Teus cabelos cor de prata ainda têm pra me ensinar/ Sou a menina sempre grata da cantiga de ninar/ Guardião da lua/ Quando sentas na varanda esperando ela nascer/ Tens o brilho como ela pontuando o amanhecer”. Dois dos momentos mais singelos, porém intensos, de Rosane Duá em seu disco. Estes dão a Todos Nós a certeza de estarmos diante de um belo trabalho. E são somados a outros de igual calibre, tais como a levada rítmica acentuada pela precisa divisão e a subida de tom para ainda mais reforçar a dramaticidade de “Construção”, ou ainda os versos de Vercilo para “Nunca Mais”: “(...) ‘Abra-te Sésamo’ todas as portas desse coração/ Libertei da eterna escravidão o meu amor pagão (...)”. Feito pássaro que alça voo sem saber nem se importar se o vento o levará ou trará, e simplesmente voa por voar, Rosane marca com a voz um estilo de cantar como quem sobrevoa a realidade. Aquiles Rique Reis, músico e vocalista do MPB4