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A viagem musical de Zé Ramalho


Por mais que não faltem justificativas para os discos atuais apostarem em "projetos", e até por todas elas, o fato de um compositor gravar músicas inéditas compostas especialmente para seu novo trabalho merece atenção redobrada.E olha que estamos falando de alguém que tem chão percorrido, não de um compositor novato - este não tem jeito, tem de estar sempre disposto a dar a cara à tapa, expondo-a a um mercado mais para sádico do que para receptivo. Trata-se de um cara que tem público cativo, um compositor que encanta a muitos com sua música sempre instigante. Sua vasta obra está longe de se ter tornado fácil a fim de atingir o maior número possível de admiradores - mas consegue atingi-los e demonstrar que popularidade é compatível com bom-gosto e qualidade. Ao mesmo tempo em que busca fazer música para tocar nas rádios que determinam o sucesso da hora, Zé Ramalho não cede às tentações que poderiam adocicar tal pretensão.Ele é sucesso desde que compôs e gravou a primeira música. Percorre diversas faixas de um público eclético: os rotulados de brega e os adeptos do rock and roll; os que amam o ritmo nordestino e os que buscam a experimentação de novos modelos musicais.Zé Ramalho é feito pedra bruta lapidada a cada nova canção. E Parceria dos Viajantes o encontrou em momento vivamente inspirado. Suas melodias, dadas às letras de cada parceiro escolhido, percorrem um universo musical digno de quem sempre se habilitou a ter uma ou mais faixas de seu disco alçada à condição de sucesso nacional. Neste disco, diversas músicas novamente se candidatam a esse pódio de reconhecimento. "O Rei do Rock" é o cartão de visita que anuncia um disco intenso. "A Nave Interior", música que conta com a boa pegada da roqueira Pitti, é outra a demonstrar o quanto letristas e poetas perceberam muitíssimo bem a intenção de Zé Ramalho. Um dos pontos altos do CD é "O Norte do Norte", cujos versos foram extraídos da primeira estrofe de um poema de José Nêumanne Pinto. A melodia criada para eles por Zé Ramalho os tornou ainda mais épicos e belos. Emocionante é a interpretação de Sandra de Sá. Arrepiante é a sua voz carregada de sentimento, a quase chorar as palavras: "Do norte do Norte/ As águias decolam/ Para vôos sem volta/ Lá, tudo começa/ A voz do mundo/ A vez do mundo". Daniela Mercury e a Banda Calypso se saem bem cantando nas faixas em que atuam - "Procurando a Estrela" e "Pássaros Noturnos", respectivamente. Mas quem dá show mesmo é Zélia Duncan (a nova Mutante, salve ela e sua coragem!), que se vale de viva picardia para magistralmente interpretar "Porta de Luz", um lindo bolero composto por Zé Ramalho e Dominguinhos. Aliás, as escolhas dos parceiros e das participações especiais demonstram o cuidado com que o disco foi pensado. Fica nítida a sensação de que cada um dos que participaram da realização do novo CD de Zé Ramalho o fizeram compreendendo perfeitamente o sentido sonhado por ele. Isso é válido para os arranjos criados por Robertinho de Recife, para os músicos que os tocaram e até para os que conceberam o projeto gráfico da capa (bela!) - enfim, todos os que se acercaram de Zé Ramalho. E os letristas, principalmente eles, encontraram nele alguém que soube valorizar cada palavra pensada por eles.Aquiles Rique Reis, vocalista do MPB4 e autor de O Gogó de Aquiles, ed. A Girafa. Seus textos são publicados semanalmente no Acontece na  no Diário do Comércio (ACSP), Meio Norte (Teresina), A Gazeta (Cuiabá), Jornal da Cidade (Poços de Caldas) e Brazilian Voice (EUA). No rádio, sempre às segundas-feiras, das 15h às 16h, "O Gogo de Aquiles" vai muito bem, obrigado. Você poderá escutá-lo (no Rio de Janeiro) sintonizando diretamente na Rádio Roquete Pinto, ou (fora do Rio) na internet: www.fm94.rj.gov.br .