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A voz emocionante de Claudette Soares, eterna e definitivamente uma grande cantora


Cantar Tom Jobim foi a forma que Claudette escolheu para homenagear outra cantora igualmente fantástica: Sylvinha Telles. No álbum, o maestro soberano está presente com parceiros feito Vinícius de Moraes (“Cala, Meu Amor”, “Derradeira Primavera”, “Andam Dizendo” e “Esquecendo Você”); Newton Mendonça (“Foi a Noite”, “Discussão” e “Só Saudade”); Aloysio de Oliveira (“Inútil Paisagem”, “Samba Torto” e “Eu Preciso de Você”); Chico Buarque (“Sabiá” e “Retrato em Branco e Preto”); Dolores Duran (“Estrada do Sol”); Marino Pinto (“Sucedeu Assim”); e Alcides de Souza (“Solidão”).Thiago Marques Luiz, que também já produziu a grande Edith Veiga em CD recente, é o idealizador de Claudette Soares – Foi a Noite – Canções de Tom Jobim. A direção musical, os arranjos e o piano couberam a Giba Estebez, que escalou Ubaldo Versolato nos saxes e na flauta, bem como Regina Vasconcelos no cello. Esta formação, pra lá de enxuta, economiza na massa sonora, mas realça, primorosamente, ora o piano, ora os saxes e a flauta, ora o cello, enquanto Claudette se deixa contagiar e permite a voz vir à tona e demonstrar o quanto ela continua privilegiada.  A leitura dos títulos que integram o repertório do CD demonstra que aos clássicos se juntam obras nem tão conhecidas de Tom. A melodia difícil de “Derradeira Primavera”, cantada com precisão por Claudette, tem arranjo no qual o piano e o cello se encarregam da suavidade pedida pelos versos. Não é qualquer um que consegue dar a “Sabiá” uma interpretação diferenciada de todas as outras que tantos já fizeram e tão bem. Mas Claudette não é “qualquer um”, ainda mais trazendo Alaíde Costa para dividir com ela o canto desta obra-prima. E as duas, ícones de uma geração que serviu e serve de escola para inúmeras cantoras que estão em busca de um lugar de destaque na música brasileira, se entregam de tal forma a “Sabiá” que causam arrepios emocionados.Fechando o álbum, valendo-se de um fonograma já gravado por Dick Farney, Claudette faz com ele uma formidável dupla para cantar “Solidão”.Com voz encorpada nos graves e até nos falsetes, ela é tão afinada quanto emocionada em seu pródigo cantar. Intérprete de uma escola e de um tempo em que não se temia a entrega, em que se preferia a lágrima à razão, a emoção à ponderação, ouvi-la é uma prazerosa remexida em lembranças passadas. Diante dessas lembranças repletas de canções, que tratamos de nos apossar e fazê-las nossas, só nós sabemos a necessidade de levá-las ao futuro – da mesma forma que sempre damos um jeito de nos levar, sempre um pouco, e sempre mais, na direção do destino que nos aguarda na dobra de uma esquina insuspeita qualquer para celebrarmos a despedida.Aquiles Rique Reis, músico e vocalista do MPB4