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A voz teatral de Tânia Bicalho


Escutá-lo atesta este tempo é de revelação de talentos formidáveis que surgem a cada momento pelos quatro cantos do país.Vale a pena buscar ouvi-lo, minha dinâmica leitora, meu diligente leitor. E você poderá fazê-lo da forma que melhor lhe convier, é claro! Pode ser no carro, pode ser no diskman, pode ser sozinho ou pode ser a dois, não importa, mas tente ouvi-lo. Mesmo que esteja sentado no sofá da sala, ouso sugerir que você escute Mãos Brasileiras como se estivesse num teatro. Sirva-se de uma dose de uísque. Você não bebe? Não tem problema, faça um chá ou pegue um refrigerante. Antes de o CD começar a tocar, diminua um pouco a iluminação do recinto e tente ouvir cada uma das batidas de Moliére. Quando as três batidas finais anunciarem que o espetáculo vai começar, ajeite-se na poltrona. Se quiser, feche os olhos. Imagine as cortinas se abrindo e uma luz tênue iluminando a atriz protagonista em cena. O musical começou.Tânia Bicalho tem a voz soberbamente teatral. Grave, ela sai ardente, profunda. Afinada, conquista os ouvidos de quem a escuta. Para tanto, a serviço de sua musicalidade, ela conta com os preciosos arranjos feitos por Jaime Alem. Mais uma vez, ele, que tem longa parceria com Maria Bethânia, revela compreender a alma daquela para quem escreve. Percebida a teatralidade impregnada nas letras e nas melodias do repertório, ele trata de emoldurá-las com harmonias e levadas também carregadas de igual força musical-teatral.Percebe-se nitidamente a direção poética dada por Sergio Natureza à concepção do álbum. As dez músicas escolhidas têm acento na tragédia, na luminosidade do amor dilacerado, na graça da vida. Cada uma das canções de Mãos Brasileiras se torna parte de um todo, como se integrasse um drama musical cujo enredo se adensa mais e mais a cada frase cantada por Tânia Bicalho.Quatro músicas do álbum são de autoria dela, cuja teatralidade cantada abre o CD com “Roda Morta” (Sérgio Sampaio e Sergio Natureza). Jaime Alem faz da guitarra e da viola de doze cordas um duo mágico a dialogar com o contrabaixo de Romulo Gomes. E com a mesma força já demonstrada por Sérgio Sampaio no admirável sucesso “Eu Quero É Botar Meu Bloco na Rua”, a música de abertura de Mãos Brasileiras soa como demonstração da força que se ouvirá nas músicas que virão a seguir. Nelas, tocam músicos do mais alto nível: João Carlos Coutinho (piano e teclado), Marcio Malard (violoncelo), Carlos Balla (bateria), Reginaldo Vargas (percussões), Flavio Guimarães (harmônica de boca) e Jaime Alem (viola de doze, violão, guitarras, cavacolelê, viola caipira e gaita).  Em “Espelhos” (Tânia Bicalho e Luhli), violão, piano e violoncelo fazem a introdução. Entra o canto de Tânia, entregue de alma aberta à interpretação. “Areia” (Luizinho Lopes) tem no piano de Coutinho e no violão de Alem o amparo de notas delicadas, como arrebatada é a sua harmonia O blues “Mais Canção do Que Adeus” (Jaime Alem) tem letra forte e perfeita para Tânia se esbaldar em pujante teatralidade. Tânia Bicalho e Sergio Natureza criaram “Perguntas no Ar”, bela canção na qual o poeta pergunta: “Com quantas lágrimas se faz o mar?”, e a atriz cantante responde com a força dos que conhecem os mistérios mais profundos.        “Eternamente” (Tunai, Sergio Natureza e Liliane), sucesso na voz de Gal Costa, que também teve ótima gravação de Vânia Bastos, fecha o CD. Lindamente. Dez faixas muito bem mixadas dão voz à grande intérprete que entoa músicas como se fizessem parte de uma trilha sonora única, marcada a ferro e feita de encantos. Aquiles Rique Reis é vocalista do MPB4