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Alaíde Costa, melhor do que sempre


Só que ela agora se revela também como autora, que cria valendo-se de um velho piano que lhe foi presenteado por Vinícius, e surpreende ao lançar Canções de Alaíde (Gravadora Eldorado, com apoio do ProAc).

Nele, todas as músicas são de sua autoria, sendo quatro só dela e sete com parceiros diversos.

Chama atenção, por exemplo, uma inversão: Alaíde compôs a melodia de “Você É Amor”, enquanto Tom Jobim fez a letra. Nesta música, com arranjo de Giba Estebez (diretor musical do álbum), ouvimos apenas o piano do próprio Giba, o violão de Fernando Corrêa e a voz de Alaíde Costa. Com direito a um belo intermezzo de violão, Alaíde arrasa.

Para abrir o disco, Alaíde escolheu uma canção só dela: “Qual Palavra?”. Versos como Quisera encontrar a palavra capaz/ De um dia traduzir o meu amor, profundo amor/ Palavras não existem que possam te falar,
são emoldurados por um belo arranjo de Conrado Paulino, ele que toca o violão, sola um intermezzo muito bonito e serve de amparo para ela cantar deliciando-se – e encantando a todos nós que a escutamos.

A terceira faixa tem duas músicas ligadas, “Ternura” (Alaíde Costa e Geraldo Julião) e “Cadarços” (Alaíde Costa e Hermínio Bello de Carvalho). As duas canções realçam o quanto Alaíde canta saboreando as palavras, deixando a impressão de que as letras são para ela um banquete que nos é servido em baixelas de prata e em pratos com frisos de ouro nas bordas finas. E ela degusta a poesia singular de Hermínio com tamanha ênfase que ao poeta restará se emocionar ao ouvir alguém cantar seus versos assim.

“Saída” (Alaíde Costa) é outra boa composição, interpretada apenas pela sua voz e pelo piano de Giba Estebez. Após uma linda introdução, vem ela, mais afinada do que sempre. Um intermezzo cria o clima para que a melodia volte a soar por suas cordas vocais.

Aliás, os arranjos são recheados de intermezzos e introduções. Sejam eles criados pelo violão, pelo piano ou pela flauta, os instrumentistas esmeraram-se e criaram belezas dignas de um álbum de Alaíde Costa.
Numa parceria encantadora com Geraldo Vandré, “Canção do Breve Amor” é um momento belíssimo do disco. É quando pela primeira e única vez ouve-se um contrabaixo acústico. Tocado por Mário Andreotti, somado ao piano de Giba Estebez, autor do arranjo, o baixo dá peso consistente aos versos de Vandré: Breve/ Como a perdida flor que longe floresceu/ E o homem não colheu pro seu amor.

Neste disco, Alaíde Costa confirma que o tempo conservou e amadureceu sua veia musical, deixando intata a sua afinação, adicionando ainda mais sentimento e recriando a atmosfera de intimidade liberada àqueles que ouvem o seu cantar.

Aquiles Rique Reis, músico e vocalista do MPB4