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Alguns heróis


Mais de sete décadas depois de Lobato, o escritor Rick Riordan leva ao público jovem as divindades que cercam sua criação, o adolescente Percy Jackson, filho do deus dos mares Posseidon/Netuno, cuja série de aventuras já vendeu mais de 15 milhões de livros no mundo todo. É Percy quem “assina” a introdução de Percy Jackson e os deuses gregos (Intrínseca, R$ 59,90). Riordan, ex-professor de inglês e de história para jovens secundaristas, abusa da irreverência para descrever façanhas de deuses com tantos defeitos quanto seus fieis humanos. Os casamentos consanguíneos, informa, se davam pela dificuldade de se encontrar uma alma gêmea através de seu “perfil no Paquere.titã.com”. A fúria de Hera/Juno contra as amantes de seu infidelíssimo marido Zeus/Júpiter é resumida no capítulo “Hera fica meio doida”. Já os amores da deusa da beleza, Vênus, estão em “Não tem como não amar Afrodite”.

Mais tradicional na abordagem, mas ainda com muito humor, Kenneth C. Davis fala sobre mitos greco-romanos, egípcios, hebreus, persas, hindus, nórdicos, africanos, celtas, maias, incas, astecas, norte-americanos, chineses, japoneses e dos povos das ilhas do Pacífico em Tudo o que precisamos saber, mas nunca aprendemos sobre mitologia (Difel, R$ 68).

A atualidade do tema, lembra Davis, é alimentada por Hollywood, nos filmes como Troia, em que houve mais preocupação com “o traseiro de Brad Pitt do que com o calcanhar de Aquiles”, o herói que o ator interpretava, ou pela literatura do século XX, quando Tolkien reviveu os arquétipos básicos das narrativas épicas para povoar a Terra Média.

Figuras menos sanguinárias, na atualidade, do que nos tempos em que viviam apenas na tradição oral também podem ser explicadas pela maturidade de cada povo, acredita Davis: “Se os celtas eram uma espécie de república estudantil bagunceira, os vikings eram uma gangue de motoqueiros sem lei. Por fim, acabaram sossegando e se tornaram os respeitáveis e civilizados escandinavos que conhecemos hoje”.

Entre os mitos mencionados por Kenneth C. Davis está o de Artur, um possível rei ou guerreiro importante para os habitantes da Bretanha, na Antiguidade. De lenda celta ou galesa até o Artur cristão, com seus cavaleiros que se empenham em encontrar o Santo Graal, o cálice usado por Cristo na Última Ceia, chegando ao menino magricela que a Disney imortalizou em A espada era a lei, houve diversas versões. A que conhecemos na atualidade deriva de A morte de Arthur, escrita por Sir Thomas Malory, em algum de seus períodos encarcerado, no século XV, por problemas criminais e/ou políticos.

Provavelmente para matar o tempo, Malory passou a compilar todos os contos conhecidos sobre o ciclo da cavalaria. Já em 1853, o americano Howard Pyle lançou Rei Arthur e os cavaleiros da Távola Redonda (Zahar, R$ 29,90). Pyle era um ilustrador renomado e também assinou as belíssimas ilustrações que integram a linda edição de bolso da coleção Clássicos Zahar. Gosto tanto das histórias de Artur, que elas me levaram a não apenas colecionar muitas versões da lenda, mas a produzir um Artur próprio – meu filho mais velho, que guarda, claro, a beleza e a integridade de um cavaleiro medieval.