Loading...

Aquelas histórias tocantes


Em tempos de hospitalização da morte, de falecimentos assépticos, reservados ao pessoal médico, distanciado ao máximo do cotidiano, o luto se torna uma provação semelhante à derrota pessoal. Dirigindo-se à mãe, a filha tenta se lembrar das afinidades entre as duas, das músicas que gostavam de ouvir juntas e da vida que uma construiu com a outra. O cansaço com os cuidados que não levarão à cura, a tristeza em não haver cura para a doença, o reconhecimento da decadência física, o medo e a tristeza se misturam no sofrimento, que precisa ser superado enquanto a certeza da separação se instala. O texto vem de um diário da autora, escrito em 2002, quando acompanhava o tratamento da mãe, com câncer de cérebro.

A narrativa fragmentada  de  Cravos (Record, R$  29,90), de Julia Wähmann, também se compõe de trechos endereçados a um interlocutor, relatando um relacionamento e tudo o que cerca aquele casal. Encontros e desencontros pontuados por referências culturais importantes para a narradora/autora, como o trabalho coreográfico de Pina Baush, a música de David Bowie e de Michael Jackson pincelam observações, com cortes rápidos de cenas em praias cariocas ou em cidades alemãs, situando os personagens no universo pop urbano intelectualizado, que racionaliza o afeto e as paixões. A dificuldade de imergir nos fragmentos que buscam explicações para cada sensação nas recordações da protagonista vem das especulações que cada lembrança suscita no leitor, que a todo momento é convidado a buscar na própria vivência o reflexo do que leu.

O incômodo é a mola propulsora de muitas tramas dramatúrgicas, como as criadas por Harold Pinter, Prêmio Nobel de Literatura de 2005. Duas de suas peças mais emblemáticas, A festa de Aniversário e O Monta-Cargas,  lançadas em 1957, acabam de ganhar uma nova edição brasileira (José Olympio, R$ 39,90). Tensão não falta nas duas histórias. A primeira conta a chegada de dois estranhos a uma pensão numa cidade inglesa à beira-mar, no dia de aniversário de Stanley, o único hóspede local. A segunda mostra dois pistoleiros que aguardam instruções para o próximo trabalho, num quarto de hotel. A rispidez dos diálogos traça a força de personagens intimidadores como tantos que se busca evitar vida afora.

Novelas policiais, geralmente, são de leitura rápida e fácil. Não é o caso dos romances do norueguês Jo Nesbo, que capricha nos enredos sombrios, bastante calcados na violência da vida contemporânea. O Morcego (Record, R$ 44,90) é o primeiro caso do detetive Harry Hole, que se desloca até a Austrália para acompanhar as investigações sobre a morte de uma jovem norueguesa, provavelmente vítima de um serial killer. Lutando contra o alcoolismo e tentando suplantar o fim de um longo namoro, Hole se envolve no caso, mesmo que não possa levar crédito pelo trabalho, e tenha que enfrentar personagens sinistros.