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As cinderelas de sempre


Depois, vieram os subgêneros da chic-lit com livros sobre mães, sobre divorciadas, sobre coroas, sobre consumistas novaiorquinas. E o que era um nicho acabou englobando todos os antigos “romances rosas”, destinados ao público feminino. Finalmente, as publicações de bancas de jornal – coleções Júlia, Sabrina – ganhavam capa dura, vendiam milhares de cópias mundo afora e permaneciam desprezíveis pela crítica literária. Como eu me interesso particularmente pelo gênero, por vê-lo retratando a imagem feminina exatamente da mesma forma que os contos de fadas, a recompensa por uma vida de sacrifícios na conquista de um príncipe encantado, vez por outra leio uma chick-lit. E, invariavelmente, me decepciono.

Foi o que aconteceu com a leitura de Como ser solteira (Record, R$ 40), de Liz Tucillo, ex-roteirista da série Sex and the City. Como outros escritores norte-americanos, Liz saiu pesquisando material para um livro sobre mulheres solteiras mundo afora, percorrendo quatro continentes. E criou um romance sobre uma jornalista que vais a vários países em busca de respostas para a questão primordial das comédias românticas hollywoodianas: como tem tanta mulher encalhada por aí? Na França, elas superam a solidão sendo amantes de homens casados. No Rio de Janeiro, precisam se conformar com maridos e namorados que têm o costume de se relacionar com prostitutas. Os clichês se sucedem, incluindo a hipersexualizada sociedade carioca, onde a americana se escandaliza com o hábito de “ficar” – só dar beijos, sem posterior encontro sexual num determinado momento.

A protagonista se envolve com um francês que vive um casamento aberto e não sossega enquanto ela não cede a seus encantos, faz sexo com diferentes moços pelo planeta e descobre que a felicidade é ter a amizade sincera de amigas mulheres, representando, cada uma, o tipo feminino urbano contemporâneo: a mãe divorciada, a chef vegetariana, a executiva carente adoradora de animais, a noiva a caminho do altar, todas próximas dos 40 anos de idade.

Esse amontoado de previsibilidades já foi vendido para o cinema e pode funcionar bem como filme. Como livro, no entanto, falta força. O sincero espanto com as descobertas da vida fora dos Estados Unidos é de um moralismo conservador de chocar missionários cristãos. Ao transformar as pesquisas de viagem em romance, Liz Tucillo, que tem um inegável talento em manter o leitor curioso sobre o desfecho de suas histórias, perdeu a espontaneidade do relato jornalístico, sem conseguir um texto literariamente consistente. Um diário sobre sua travessia mundial, talvez, soasse mais autêntico. E divertido.

Uma das diferenças culturais que talvez surpreendessem Liz Tucillo é que o ano civil brasileiro começa após o carnaval, o que aconteceu nesta semana. Feliz 2016!!!