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As dores e delícias da existência real ou ficcional.


Para montar o comovente livro-reportagem O último abraço: uma história real sobre eutanásia no Brasil (Record, R$  32,90), o jornalista Vitor Hugo Brandalise ouviu Nelson, seus filhos, amigos e parentes, além de pessoas que conviveram com Neusa na clínica, desde que ela sofreu dois acidentes vasculares cerebrais. Nelson visitava a mulher todos os dias na casa de saúde da Zona Leste de São Paulo e conta que ouvia os apelos dela para tirá-la dali. A perplexidade que envolve os suicídios dá lugar, no texto, à discussão sobre eutanásia, o direito à morte digna e as escolhas de cada um sobre a forma de encerrar sua existência. Sem oferecer conclusões, mas incitando à compreensão sobre diferentes temas – a depressão, as difíceis condições de cuidar de inválidos no Brasil -, o relato da história do casal de classe média baixa, desde o namoro até o suposto pacto suicida, clama pela reflexão sobre assuntos que preferimos ler “por alto” nas páginas dos noticiários.

Situações que empurramos para baixo do tapete, por temor ou prudência, isolam em suas próprias esferas os contos de A Cápsula (Imã Editorial, R$ 36), que a jornalista Regina Zappa cria nas recordações de um homem no leito de morte. A melancolia de cada história curta, que se encadeia com a seguinte até um epílogo ligando todos os fios de um delicado tecido entremeado pela inocência do menino que cresce diante de realidades jamais analisadas profundamente, está calcada na realidade de todos nós. A doença social emerge no alcoolismo, na bipolaridade de uma mulher perfeccionista, nas relações extraconjugais jamais reveladas, mas que se confrontam durante um velório, na fragilidade dos afetos turbinados pelas drogas, no vazio existencial. Lidos separadamente, cada história se desenvolve com independência, mas pode compor um belo mosaico da brasilidade sofrida, que festeja uma rotina de monotonias guardadas no fundo do peito.

Artista plástico destacado no cenário nacional, Jozias Benedicto venceu o prêmio Governo de Minas Gerais de Literatura 2014 com os belíssimos  contos de  Como não aprender a nadar (Apicuri, R$ 37), que têm nas piscinas o  elemento comum para tratar de construções e divagações de diferentes personagens. Violência, proteção, batismo, todas as metáforas para imersão, afogamento e ressurgimento estão nas histórias que traçam um panorama de sensações e sentimentos compartilhados por qualquer pessoa, em qualquer lugar do mundo.