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Baião e rock, tudo é popular, tudo é pop


A primeira impressão é que as onze faixas de Baiãozinho poderiam ser substituídas pelas nove faixas de Nuar, sem que isso causasse perda poética ou musical. Cada baião tocado e cantado no primeiro disco soa sofisticado – e o gênero está presente em seus mais diversos tipos: dos mais lentos aos mais vivos, das melodias mais simples até as harmonias mais intrincadas, dos versos mais líricos aos mais corriqueiros. Pode-se assim, aqui e ali, misturar e rotular o baião com nomes diferentes, mas ele será sempre um baião, seja ele feito aqui ou acolá.             “Vento Geral” (Assis Medeiros) tem a cara de um boi do Maranhão... Mas é um baião. Dois naipes de quatro sopros e quatro metais costuram a melodia, enquanto a zabumba segura o ritmo do arranjo do contrabaixista Leonardo Batista.            “Coqueirinho” (Assis Medeiros e Hamilton Oliveira) tem sutil referência a “Juazeiro” (Luiz Gonzaga e Humberto Teixeira). Após bela introdução do quarteto de cordas, ouve-se a percussão de Chiquinho Mino e também Assis tocando viola de dez cordas. Juntos, com seus sons característicos, revelam um ótimo baião.            “No Quebrar Damaré” (Assis Medeiros) é de um encanto comovente. A letra tem ótimos versos. O cello (Francieudo Torres) faz um belo duo com o corne inglês (Roberto Di Leo), enquanto o berimbau dá mais toques de beleza.Acabado o primeiro CD, mudando a página do encarte para acompanhar as letras do segundo, vê-se que para ler temos que vê-lo de ponta cabeça. É o avesso da intenção musical de Assis Medeiros revelando-se graficamente, pois para ir de um disco ao outro, deve-se pôr de cabeça para baixo a estética rock/guitarra, baião/zabumba.Em Nuar, de fato, as guitarras, os efeitos, a bateria e o contrabaixo com pegadas mais fortes (e também graças à mixagem) soam bem mais intensos do que em Baiãozinho.“Coisa de Maníaco” (Assis Medeiros) é um reggae cheio de ginga. Chama atenção a singular sonoridade dos trombones tocados por Marconi Souza. Coisa fina. Assim como finos são os versos de “Solitário”, do poeta paraibano Augusto dos Anjos, musicados por Assis. Marco Guedes toca bateria com pulso firme. Nas mãos de Assis Medeiros a guitarra aguça a pegada roquenrol.Uns ainda veem a guitarra como sinônimo de “música americana” e o violão como igual a sambão. Alguns dizem que cello não faz liga com pandeiro, só com erudição.  Quem quiser que concorde com minha opinião, já que, avesso ou reverso, é do instante preciso que nasce a criação.Aquiles Rique Reis, músico e vocalista do MPB4