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Bom cantor, bom sambista...


Baden e Paulinho, dois caras que se misturaram e deram em samba; deram em música e em letra que se engrandecem enquanto se somam. No CD estão, em maioria, grandes sambas desta dupla que marcou época; além de um belo cantochão, "Sermão", com letra inédita de Paulinho Pinheiro. Logo de cara, chama atenção o fato de a percussão utilizada no disco, apesar de eficiente, ser apenas discreta. Apenas quatro das onze faixas contam com ela. A força do piano é que é a marca registrada dos arranjos. Piano que Phillippe toca com suingue impressionante, logo na abertura do CD, no samba pouco conhecido "Cai Dentro". Com a incrível pegada de seu arranjo, ao somar o violão de Caio Cezar ao piano tocado por ele, Phillippe consegue equivalê-lo à força que tem um samba tocado com surdo, repique, tan-tan, cuíca e cavaquinho.Aliás, o disco se esmera na utilização da formação piano e violão. Violão que ora é tocado por Caio Cezar, ora por Ulisses Rocha; piano que ora é tocado por Phillippe Baden Powell, ora por Adriano Souza. Piano e violão, imbuídos da genialidade dos parceiros que compuseram os sambas que tocam, funcionam à perfeição. Dupla responsável por dar a Marcelo o suporte que ele precisa para ressoar sua voz que se difere de outras pelo som que o acompanha e por levar o samba aonde ele nasceu para estar: na alma de que quem o escuta.  Marcelo Vianna e seu Cai Dentro são a clara demonstração de que o samba permite interpretações distintas, desde que o talento impere; desde que a voz do cantor tenha brilho e afinação; desde que a música e a letra tenham ainda mais vida a dar ao molejo que elas requerem para balançar e fazer requebrar.A partir da escolha do repertório, Marcelo teve garantido o sucesso de seu trabalho. Somando-se a este fato a certeza de que sua voz é talhada para cantar sambas como os que pinçou da obra de Baden e Paulinho Pinheiro, o moço dá toda pinta de que veio para suprir uma carência que já dura incômodos muitos anos: a falta de bons cantores. E vale a pena transcrever as palavras de Phillippe Baden Powell, ele que é filho de Baden, que estão no encarte do CD: "A parceria de Baden Powell e Paulo César Pinheiro é o encontro mágico entra a música genial e a palavra certa."Sua interpretação de "Pai", outra linda letra inédita de Paulo César Pinheiro, é arrebatadora O piano e o violão, sempre eles dando ao CD o tom de diferenciação, marcam o ritmo e dão a harmonia que empresta à levada o sabor imaginado por Baden em seu violão.Dá gosto perceber que não há limites para o cantor. É prazeroso verificar que esta mesma falta de limites mostra ao compositor o caminho de criar sem amarras. E é nesta ausência que se faz o ouvido daqueles que buscam o prazer pela música. Assim se cria um repertório fundamental, que se dispõe a ser base para novas vozes dele se valer para se mostrar e comprovar que da música pode-se esperar tudo, desde que a ela se dê todo o talento que se disponha.Encerro este comentário transcrevendo outras palavras que constam do encarte de CAI DENTRO. Elas foram escritas pelo próprio Marcelo Vianna: "Essa parceria começou em Ramos, na casa de meu avô Pixinguinha. Meu pai, Alfredinho, ao piano, e Baden, no violão, trocaram os primeiros acordes dessa história, que originou a valsa "Linda", de autoria de papai, gravada por Baden, em 1958. Quando a nota não era certa, Pixinguinha, da cozinha, dizia ao filho: "é bemol, Alfredinho, é bemol!" E Paulo César Pinheiro, vizinho de rua, já ouvia tudo. O CD Cai Dentro é afinidade e desafio! É a minha casa. É de onde venho e para onde vou."Aquiles Rique Reis, vocalista do MPB4 e autor de O Gogó de Aquiles, ed. A Girafa. Seus textos são publicados semanalmente no Acontece na  no Diário do Comércio (ACSP), Meio Norte (Teresina), A Gazeta (Cuiabá), Jornal da Cidade (Poços de Caldas) e Brazilian Voice (EUA). No rádio, sempre às segundas-feiras, das 15h às 16h, "O Gogo de Aquiles" vai muito bem, obrigado. Você poderá escutá-lo (no Rio de Janeiro) sintonizando diretamente na Rádio Roquete Pinto, ou (fora do Rio) na internet: www.fm94.rj.gov.br .