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Busquem ouvir Túlio Borges


 

Sou um garimpeiro, a procurar encantos no desconhecido, perseguindo confirmação da frase de Goethe: Longa é a arte, breve a vida, difícil o juízo, fugaz a ocasião...

Dias depois vem a dita ocasião. (Aliás, fica a dica ao leitor que não teve a sorte de receber o CD em casa como eu: no site do Túlio é possível ouvi-lo de graça e baixar o álbum pagando o que achar que o trabalho merece.)

Ligo o som. Meus sentidos se aguçam. Túlio canta com a delicadeza de quem nina uma criança. Intimista e afinada, logo sua voz se faz íntima de mim. Quanta sensibilidade, meu Deus!

Finda a primeira audição, vou ao encarte e leio o que Túlio escreveu: A história deste disco começa no Sítio dos Grossos, em São José do Egito, Pernambuco. Em 1942, na terra dos maravilhosos vates do repente, onde quem não é poeta é louco e quem é louco faz poesia, nasceu meu pai (...) De modo que na adolescência eu ouvia cassetes de cantoria, me interessava por folhetos e aprendia quem eram os grandes da poesia nordestina (...) Fiquei doido e, com juízo, quis aprontar logo um disco.

O brasiliense Túlio Borges é cantor e compositor. Neste seu segundo álbum, ele se juntou a poetas populares nordestinos que admira: Jessier Quirino, Climério Ferreira, Tony e Anthony Brito. Alternando parcerias, ora com um, ora com outro, às vezes compondo sozinho, às vezes cantando música de autoria de um deles, assim se fez o repertório.

Tanto compondo melodias quanto escrevendo letras, Túlio Borges confirma suas raízes. Desde os seus arranjos instrumentais, com muita percussão, passando pelo resfolego do acordeom, pelos violões que ponteiam e por pífanos, cavaquinho, baixo e viola, tudo é envolto num balanço brasileiro que faz o corpo querer saracotear.

A grande marca do repertório do CD está no desvario das letras e melodias de Túlio, bem como nos versos adoidados dos trovadores nordestinos. A força das composições cosmopolitas de Borges ecoa a ancestralidade dos ritmos e das canções nordestinas.

Antes de concluir, volto-me aos que têm por hábito dizer que a música brasileira não se renova. Ora, gente, aqui está Túlio Borges e seu Batente de pau de casarão para desmentir e motivar vocês a conhecer outras caras novas que não param de surgir para a música. É por desprezar os novos criadores que se tem a falsa ideia de que não existe nada de novo no céu musical do Brasil.

Por fim, dirijo-me aos que ainda não conhecem a singularidade musical de Túlio Borges: busquem ouvi-lo!

Aquiles Rique Reis, músico e vocalista do MPB4