Loading...

Caraca Badico


Quase menino ainda, foi encaminhado aos testes no juvenil, naquele timaço dos anos 70 de onde surgiram Cantarelli, Leandro, Mozer, Rondinelli, Júnior, Geraldo e, entre outros, Zico! Já pensaram?

A temporada na Gávea foi curta, mas suficiente para Badico participar de meia dúzia de coletivos e até de um jogo amistoso entre equipes da mesma faixa etária, contra Madureira, Bonsucesso, Portuguesa...

Segundo ele, “um desses aí”. Esqueceu qual foi o adversário, mas se lembra até hoje, invariavelmente com lágrimas nos olhos (invariavelmente depois da sexta ou sétima cerveja), de um lance durante a partida que marcou para sempre a sua vida.

Narrada por ele mesmo (invariavelmente depois da décima cerveja), a jogada ganha um colorido todo especial:

– Recebi a bola na intermediária, lançada pelo Capacete ou pelo Adílio Neguinho Esperto, não lembro bem, e parti para a frente. Driblei o dez deles e fui. Driblei o cinco e avancei. Perto da meia-lua, vi o Zicão se deslocando pela esquerda, fazendo aquele movimento meio torto que ele fazia, parecendo que ia cair para derrubar o adversário, e lancei de primeira, como ele gostava de receber. A chanca beijou mal a gorducinha e ela saiu raivosa, enganadeira, ensandecida, indo parar do outro lado do campo, lá no pau da bandeira.

No estádio, a galera gritou “Uuuuuuhhhhhh”! Na mesa, nós gritamos também. E o Badico prosseguiu:

– Foi quando ouvi o Galo cantar, com aquele sotaque inconfundível de Quintino: “Caraca, Badico! Tá maluco?” Parece que até hoje eu escuto. Invariavelmente.

Pouco depois o meu conterrâneo foi dispensado do Flamengo (não por aquele lance, mas pelo conjunto da obra). Fez algumas tentativas sem sucesso por outros clubes do Rio, antes de retornar e encerrar a carreira no meio­campo do Berimbau, onde mudou o próprio nome para “Caraca Badico”.

Aos curiosos, na porta da mercearia, ele explica sem firulas:

– Nada a ver com numerologia. A razão é idolatria mesmo.