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Choveu na horta da nova música brasileira


Nele, a moçada – todos têm entre vinte e dois e vinte e cinco anos – demonstra talento. Desde as letras de Diego Casas, passando por melodias criadas por outros de seus integrantes, no Pitanga tudo é vivacidade. Mas a grande força do quinteto está no sortimento instrumental. Revezando-se para tocar arranjos coletivos nos violões de seis e de sete cordas, nas flautas doce e transversa, no trompete, no clarinete, no sax, na pianola e nas percussões da zabumba, do triângulo e dos chocalhos, a moçada agrega frescor à sua pluralidade musical. “Quem Ouvirá” (Daniel e Diego) começa com violão e assobio. Diego canta. O sete cordas cadencia o ritmo com baixarias bem marcadas. A cuíca chora. A eles se junta a voz de Flora. O intermezzo acentua o suingue, com o clarinete e o trompete solando a boa música. O sete cordas brilha. Agora é Daniel que se soma a Flora e Diego para solar a melodia. O trompete com surdina e o violão distinguem o final.Segue-se “Frevo a Tempo” (Ângelo e Diego). Com o violão e a caixa, o frevinho vem ligeiro trazido pela boa voz de Flora. A caixa e o violão se concatenam. E o clarinete se achega para avivar o tema com frases requintadas. Agora Flora tem a companhia de Diego. O solo do intermezzo cabe ao clarinete. Todos vêm. E assim encerram. “Choro Bate Boca” (Ângelo e Diego) começa com o pandeiro. O clarinete chora com o violão. Diego canta. O sete responde. A segunda parte vira marchinha e Flora vem cantar junto com Diego. Volta o choro com clarinete e violão. Show de bola.O violão chega trazendo o ritmo pela mão. A flauta brinca na melodia. E Flora começa a bela “Chegou” (Gabriel e Diego). A levada segue. Mais uma vez, é hora de a flauta brincar enquanto aguarda o ritmo que vem quente. O sete surge em meio ao balanço. Flora leva ao fim o belo samba.“Papel Passado” (Daniel e Diego). O baião resfolega na voz de Daniel e Diego. Zabumba e triângulo marcam para a flauta e o trompete com surdina. O coro come. O ritmo desdobra e os sopros amaciam a pisada. Flora se junta aos dois para vocalizar. A surdina dá ares de gafieira ao forró. O bate-chinela fica irresistível. Tudo é festa com o Pitanga.O violão assume o comando para começar “Vai com Deus” (Diego). O trompete faz graça com a surdina. O choro é caloroso. O tamborim segura a levada. O sete faz sua parte. Flora e Diego dividem a melodia... Boa escolha para fechar o EP.Moçada iniciante, cheia de recursos, decerto consciente de que ainda há muito chão a percorrer, disposta a encarar o desafio de fulgurar onde já cintilam os seus mestres inspiradores, o Pitanga tem aptidão para logo fazer bonito no mundo musical.Aquiles Rique Reis, músico e vocalista do MPB4