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Clima ardente


Pois é, amiga e amigo leitores, tocando as composições inspiradas e os arranjos muitíssimo bem elaborados de Conrado Paulino, o quarteto faz misérias musicais. Dá gosto ouvi-lo.

"O Esquimó em Olinda" (CP) abre o álbum com o som da bateria, somado ao do clarinete do convidado Alexandre Ribeiro e ao do violão de Paulino. O frevo ferve. Clarinete e violão tocam a melodia em uníssono. Muito bom.

"Me Zeni o Pet" (CP) começa apenas com o violão. Logo vêm o baixo e a bateria, numa linda introdução. O piano e o baixo tocam em cânone. A bateria suinga. O violão arrepia. O baixo improvisa. Antes de finalizar, baixo e piano repetem o cânone inicial. Ótimo arranjo!

Com arranjo de Debora Gurgel, "Valsa Errante" (CP) tem introdução tocada por cordas. Quem canta? Tatiana Parra! O violão a acompanha. Voltam as cordas. O violão segue. O piano dá o ar de sua graça, enquanto Tatiana arrasa, indo afinada e delicadamente às notas. O baixo dá sustentação às cordas e ao piano. Um crescendo põe fogo na valsa. Fim.

Em "Vivo Sonhando" (Tom Jobim), o violão toca a introdução e segue na melodia, ora dedilhando acordes, ora tocando-os em bloco. Chega o ritmo. Baixo, piano e bateria somam-se ao som da flauta mágica de Léa Freire. A bossa nova ganha levada supimpa. O sopro de Léa flui simples e lindo num solo que tem a ampará-la violão, baixo e bateria. O intermezzo cabe ao violão. A melodia volta à flauta; o violão lhe dá acolhimento. O baixo improvisa, a bateria suinga... Vixe!

"Gêmeos" (CP) tem início com um uníssono entre o violão e o trompete do convidado Daniel D'Alcantara. Os dois seguem, tendo agora um trio de saxofones ajudando a engrossar o caldo do suingue: Vitor Alcântara, Mauricio de Souza e Josué dos Santos. Um cânone do trompete com o violão cria bela sequência melódica. O jazz: o trompete volta a improvisar. O som dos saxofones agrada meus ouvidos. A levada dobra; o trompete, cujo improviso já era quente, enlouquece de vez; o baixo toca "mil" notas por compasso; a bateria alterna com o piano alguns compassos de improviso... Volta o desenho inicial; com ele, entre solos do violão e do trompete, vão ao fim. Meu Deus!

Ao final, um surpreendente arranjo para "Ana Julia" (Marcelo Camelo), sucesso do Los Hermanos. Paulino faz vocalises. A harmonia da canção ganha ares jazzísticos, ao som do improviso do piano. Logo o solo é do violão. Conrado retoma o vocalise e, respeitosamente, todo o quarteto conduz ao final.

Assim, o QCP revela no ato de tocar um sentimento de pertencimento ao mundo da música, mundo em que estão inseridos por amor ao ofício.

Aquiles Rique Reis, músico e vocalista do MPB4