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Cortante como navalha


Gus Nascimento (vocais), Fernando Coan (guitarra), Cadu Ramalho (baixo) e Dedé Neves (bateria) são a banda Madjoker, que acaba de lançar Mal necessário (Turbo Music/Unimar), o seu primeiro CD.

Jovens paulistanos, a testosterona lhes brota dos poros. A pegada é demolidora. Riffs e grooves veementes lhes vêm como resposta à inquietação juvenil. Improvisos ostentam a insegurança dos quatro, mas logo poderá ter a firmeza que os levará a sempre serem atuais no desconforto que os impulsiona.

Compositores, suas músicas têm a voracidade da tempestade que espanta dos céus a brisa leve, tendo nelas mesmas a vertigem das ventanias ensandecidas. O que eles tocam vem agarrado à poesia que lhes canta a vida. Moços juntando o saber ao descobrir, improvisando discursos em vez de se apoderar dos existentes, dando dúvidas às certezas, estimulando medos em vez de evitá-los. De contradições nasce a música dos quatro moços da Madjoker.

As nove músicas do álbum (há ainda uma faixa bônus multimídia) têm um som pesado, lancinante, propositalmente “sujo”; “sujeira” que o faz diferente da assepsia de tantas outras bandas roqueiras, igualmente jovens, mas sem a boa sujidade da Madjoker.

Encantaram-me os versos bem elaborados somados a melodias quase pueris, mas com uma funcionalidade da mais alta relevância para o resultado final das composições. As interpretações são o auge dos meninos. Entregam-se às músicas com a devoção de um fundamentalista; dão-se aos instrumentos com a humildade de um servidor do Senhor; fazem música como se nada mais lhes restasse na vida.

Destaques: “A Coroa dos Mendigos” (Fernando Coan, Cadu Machado e Gus Nascimento) – a guitarra, a bateria e o baixo invadem a introdução. A voz os cobre com um manto de aspereza: Pra onde eu for eu sinto solidão/ E na escuridão/ E a coroa dos mendigos/ Quem vai usar?/ Por mais que sem querer. “O Dia Fora do Tempo” (Fernando Coan, Cadu Machado e Gus Nascimento) – os instrumentos estraçalham na força da pegada: Nunca soube o que quis fazer/ A intuição guiou minha intenção/ E até valeu a pena me perder. “Primeira Escolha” (Fernando Coan e Gus Nascimento) começa com um berro. Alucinados, guitarra, bateria e baixo levam desassossego ao canto: Um motivo pra afundar na areia movediça/ A vontade estava lá/ Tua coragem submissa.

Você, leitor, pode estar curioso: “Mas que rock é esse que faz essa nova banda?”. Candidamente, respondo: “Não faço ideia!” Mas especulemos, seria heavy metal? Punk rock? Vamos combinar? Tanto faz o rótulo. Importa o som, a pegada, o espírito rock and roll, cortantes como navalha.

Aquiles Rique Reis, músico e vocalista do MPB4