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Duas vozes mágicas


Ao receber o álbum, minha primeira reação: nada mais óbvio do que outro disco da dupla – sim, porque eles já haviam lançado dois, ambos produzidos pelo grande José Milton, em 1982 e 1992. Finda a primeira, a segunda, terceira e tantas outras audições, cai a ficha: nada mais verdadeiro e tão genialmente necessário do que a promoção desse reencontro.

Angela e Cauby estão cantando melhor do que nunca. Suas vozes, que sempre nos encantaram nas últimas décadas, hoje têm mais profundidade do que tinham. Suas emoções estão ainda mais à flor da pele, a segurança de ambos alcançou tal ponto que cada sílaba do canto que lhes sai da garganta traz a certeza de nos conquistar sem maiores esforços. Afinação tatuada na voz, plenos de vigor, os graves e agudos (mais os de Cauby do que os de Angela, diga-se, a bem da verdade) estão plenos de vigor e ainda mais encorpados.

Uma baita orquestra foi formada para amparar Angela e Cauby. A direção musical, os arranjos de metais e de cordas, regência, violão e guitarra acústica ficaram a cargo de Daniel Bondacsuk, ele que, junto com Ronaldo Rayol (baixo elétrico), também criou os arranjos de base. Tudo extremamente correto.

Louvável e compreensível a preocupação de Thiago Marques Luiz de dar aos astros todas as condições para que o trabalho melhor fluísse. Mas, ouso dizer, se o acompanhamento se resumisse apenas a um piano, por exemplo, as interpretações de Angela e Cauby seriam praticamente as mesmas, pois suas vozes são as estrelas que brilham em cada faixa.

Destaques: “Apelo” (Baden e “Vinícius), Assim se Passaram Dez Anos” (Rafael Hernandes, versão de Lourival Faissol), “Se Não For Amor” (Benito di Paula), “Chove lá Fora” (Tito Madi) e “O Mundo É Um Moinho” (Cartola).

Angela e Cauby estão de volta: abra o seu coração para escutá-los. Mas esteja preparado para o que sentirá. Pois, embora irmanados pela música, afastados pelo movimento da vida, eles voltaram a se encontrar, e isso é o que mais importa. Na verdade, em momento algum eles estiveram um sem o outro. E suas vozes, juntas ou separadas, seguirão acalentando lindamente e para sempre os nossos sonhos. E os nossos medos.

Pois é... A cada canção, chore, mire-se no espelho e relembre-se de tudo o que viveu, de tudo que se privou de fazer e deixou para trás. As vozes de Angela Maria e de Cauby Peixoto, juntas, propiciarão isso. Reveja nas entranhas de sua memória o que estava esquecido. Certifique-se, então, de que tudo se manteve em estado bruto, intato, pronto para ser novamente acionado por uma fagulha da vida renascida nas vozes de uma grande cantora e de um grande cantor.

Aquiles Rique Reis, músico e vocalista do MPB4