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Encantadores de palavras


Ao tratar o seu público como seres pensantes, prontos para se deixar envolver numa poética distante daquilo que se convencionou ser a única forma de compor para os pequenos, a Palavra Cantada se mostra um oásis. Um minutiiiinho (MCD) é o título do álbum cuja direção musical é de Paulo Tatit, com produção de Guilherme Kastrup.Tudo começa com a faixa-título, de Paulo Tatit e Zé Tatit, uma obra-prima: Mamãe um minutinho já vou/ Agora não posso parar/ Espera um pouquinho já vou/ É só um minutinho, rapidinho já vou. Ao receber o apelo à pressa, não há criança, jovem, adulto e velho que ainda não tenham se valido da súplica: “Um minutiiiinho”. Quando tudo hoje é para ontem, esse pedido é como se tentássemos frear o tempo, ou como uma tentativa de amenizar a angústia, que vem da correria desenfreada de uma vida que não admite pausa. Pois, assim, essa música é o símbolo de um trabalho musical feito por adultos incorporando o universo das crianças, unindo visões comuns a ambos.  Ouso dizer que apenas por ela o CD se bastaria. Mas como, evidentemente, pegaria mal um disco com apenas uma única música, outras treze lá estão. Se não com a força de “Um Minutiiiinho”, as que se seguem são também impecavelmente bem construídas poética e musicalmente. “Eu Sou Um Bebezinho” (Paulo Tatit) é um reggae que embala letra na qual o bebê não se conforma de não ter toda a atenção do mundo: E ontem de noite/ Cri cri/ Mamãe estava tão chique/ Fiu fiu/ Na hora de ela sair/ Beijinho beijinho/ Eu dei um chilique/ Chilique, chilique. Musicalmente perfeito, alegremente saudável.“Vem Dançar Com a Gente” (Paulo Tatit) é um convite à dança. Num arranjo pop, as vozes de Paulo, Sandra e Estêvão Marques, somadas a um coro, chamam para uma alucinada dança das caveiras.Os arranjos são bem apurados e tocados por ótimos instrumentistas, e é bom que assim seja, pois nem sempre é assim. As músicas feitas pela Palavra Cantada e seus parceiros são tocadas e cantadas impregnadas por orgulho que vem à tona a cada sílaba, a cada acorde.Eles não “brincam” de fazer música para criança, brincam, isso sim, com a capacidade que têm de colocar seus maiores talentos a serviço delas que, enquanto abrem seus ouvidos com o que de melhor a música tem a lhes oferecer, ouvem-na como se estivessem numa brincadeira que distrai e, ao mesmo tempo, as enriquece como seres humanos.Aquiles Rique Reis, músico e vocalista do MPB4PS. Roberto Silva, o Príncipe do Samba, mais um que nos deixa.