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Esta é Sáloa Farah


Parece incrível, mas há! Desnuda, entregue ao ato de fazer da música seu ofício visceral, Sáloa esbanja personalidade. Ela mesma uma compositora, gravou três das suas com os também estreantes Pedro Moreno e César Veneno, e uma com Paulo César Feital. E também “Vela no Breu” (Paulinho da Viola e Sérgio Natureza), samba responsável pelo primeiro contato com a voz da jovem carioca de vinte e um anos. O impacto se dá logo após a introdução tocada pelo bandolim (Afonso Machado) e pelo piano (Wilson Nunes)... Enfim, Sáloa Farah... Meu Deus, um mundo musical ao alcance de uma voz. E que voz!Com produção de Paulo Cesar Feital, o álbum foi gravado com o esmero que merece todo principiante. Desde os músicos instrumentistas arregimentados, passando pelos arranjos, indo à mixagem e à concepção do encarte, tudo foi preparado para apresentar, da forma mais digna possível, uma intérprete que se dá ao mundo. E tem o lindo samba de Bide e Marçal, “Não Diga Minha Residência”, com lírica introdução tocada pelas flautas de Alexandre Maionese. Há ainda uma sequência de três músicas divididas em duas faixas: numa, “Deus me Livre” (Sáloa e P. C. Feital), noutra, “Zunido” e “Onze Fitas” (P. C. Feital e Fátima Guedes), que são como o enredo de um filme cuja violência é estampada em cores cruas, nas quais se destacam um coro masculino e o sax de Zé Canuto.Claudio Jorge e Nei Lopes criaram “Melhor Assim”, e Sáloa a interpreta com paixão, instigada pelo trombone de Kátia Preta. Para cantar “Seja Breve”, apenas percussão vocal e palma de mão acompanham Sáloa, resultando em irreverente e preciosa interpretação do humor de Noel Rosa. “Meu Coração Vacilou” é samba bem construído por Bruno Ribeiro e Edu de Maria; nele, a verve da cantora ainda mais se liberta e brilha.Voz grave, profunda, sua interpretação surpreende e dá vazão a uma emoção diretamente contagiante, que a tudo emoldura com tons fortes. Ginga de veterana no cantar balançado. Finura de intenção ampliando notas agudas quando presentes na melodia.Intensa, ela tem a cobri-la uma luminosidade teatral. Suas frases melódicas saem do fundo da garganta, como se cumprissem o destino de serem afinadas, sem semitons a lhe empanar o brilho. E quando surgem, inevitáveis, não chegam a comprometer o todo, já que soam ao sabor da força da letra, que, feito uma Pombajira, a cantora alimenta com o ardor que merecem palavras desatinadas. Plena, de cartola e de tamanco, eis Sáloa Farah.Aquiles Rique Reis, músico e vocalista do MPB4