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Experimenta, Duofel!


        No outro CD, Lounge Eletrônico, uniram-se ao Lunatics, integrado pelos produtores musicais Manoel Vanni e Franco Jr., que operam samples, teclados e programas eletrônicos. Fernando e Luiz, o primeiro com seu violão de 12 cordas e "zig zum", o segundo com seus violões de cordas de aço e de náilon e "zig zum", não temem o novo: criam-no e tocam-no ousadamente. O Duofel sabe muito bem o que é capaz de tocar, por isso experimenta. Fernando e Luis querem experimentos, por isso tocam. A sensação que fica após ouvir por diversas vezes cada um dos CDs que compõe Experimenta é a de que ele é o "Araçá Azul" do Duofel. Ou seja, Experimenta é como aquele disco de 1973, no qual Caetano Veloso planejou experiências sonoras e gravou, por exemplo, "De Conversa", com arranjo repleto de grunhidos e vozes que se superpõem umas as outras. Em Experimenta o Duofel também dá a cara à tapa e assim, como o "Araçá Azul" de Caetano, muitos adorarão; outros detestarão; muitos não entenderão; outros odiarão sem entender; muitos amarão sem justificar. Mas vamos falar agora de Playing At Home. Imaginemos Duofel, Badal Roy e Daniel Moreno sentados confortavelmente numa sala qualquer, numa cidade qualquer de qualquer país. Cada um tem seu instrumento nas mãos. Um moderno gravador está ligado. Um dos violões começa a ser afinado. Os outros instrumentistas começam a tocar. A afinação se integra ao som. Logo é o outro violão quem dá início ao trabalho de afinar suas cordas. A música continua, utiliza aquele dedilhar característico e faz dele o mote para a composição que está nascendo. Assim são as duas primeiras faixas, sendo que a moda de viola de "Morning Light" tem um sabor... A personalidade de Fernando e Luis está nítida ali. Aquilo que criam é o que faz do Duofel um nome diferenciado na cena musical brasileira. Na faixa seis o show é de Badal Roy.Em todas elas o suingue é fabuloso e vem da pegada mandingueira do Duofel. As harmonias e os solos têm a sua marca. E a dinâmica está ainda mais presente neste Experimenta. Segue a jam session. Não há hora para acabar; não há o que buscar. Nem faz questão de ser isto ou aquilo. Quer, sim, ser música feita do baita talento que brota daquelas mãos que se valem de momentos de trabalho e inspiração.Agora imaginemos Lounge Eletrônico. A eletrônica cresce ao som de violões; os violões baseiam-se na eletrônica para irem além. Irmanados, cada um dá ao outro o que tem de melhor. E nasce a sonoridade que pode trazer desconforto, como a que brota em "Naja". Ou que pode dar vontade de se balançar na cadeira - é o que se tem ao ouvir "Descendo a Rocinha" e "Sambanela". E os experimentos continuam. Alongam-se. Ora dão arrepios de estranheza, ora causam sorrisos de surpresa. E vão tecendo um verdadeiro bosque de notas emaranhadas; uma floresta de sons múltiplos. A competência musical do Duofel é tamanha que cabe afirmar: toda experimentação é necessária quando feita por gente talentosa. E mais: alguém precisa urgentemente, se é que isto já não foi feito, apresentar Fernando Melo e Luis Bueno aos irmãos Pederneiras, a alma do Grupo Corpo. Só de imaginar, comovo-me: uma coreografia deles para uma trilha criada pelo Duofel... Deus do céu! Talento produzindo ilimitada e instigante beleza, seria assim, penso modestamente, o trabalho conjunto dessas duas forças incontestes da dança e da música nacionais. Coisa para nos orgulhar.

Aquiles Rique Reis, vocalista do MPB4 e autor de O Gogó de Aquiles, ed. A Girafa. Seus textos são publicados semanalmente no Acontece na  no Diário do Comércio (ACSP), Meio Norte (Teresina), A Gazeta (Cuiabá), Jornal da Cidade (Poços de Caldas) e Brazilian Voice (EUA). No rádio, sempre às segundas-feiras, das 15h às 16h, "O Gogo de Aquiles" vai muito bem, obrigado. Você poderá escutá-lo (no Rio de Janeiro) sintonizando diretamente na Rádio Roquete Pinto, ou (fora do Rio) na internet: www.fm94.rj.gov.br .