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Falando de música: O Tropicalismo


Voltando à moda e ao modismo por conta de uma novela de TV, o movimento musical que ficou conhecido como Tropicalista (ou Tropicália) – e os seus representantes, por conseguinte, como “tropicalistas” – foi além de uma manifestação puramente de musical, ganhou status de cultural e político (revolucionário), e influenciou muitos criadores durante sua permanência no mercado fonográfico, na programação de shows e na mídia.

Importante destacar que o Tropicalismo, surgido no Brasil no final da década de 1960, teve à frente os nomes dos cantores e compositores baianos Caetano Veloso e Gilberto Gil, e atingiu outras esferas culturais (artes plásticas, cinema, poesia). O marco inicial foi o Festival de Música Popular realizado em 1967 pela TV Record.

O movimento tropicalista se destacou e ganhou espaço na mídia por conta da promessa de modernidade que traziam os seus principais artistas. Da presença dos músicos nos palcos, com suas roupas soltas e coloridas, ao ecletismo das letras (bom lembrar a quantidade de poetas de qualidade que aderiram ao movimento, Torquato Neto, José Carlos Capinam e Tom Zé entre eles), a Tropicália fez da mistura de vários gêneros musicais um ponto forte e marcante. Do deboche às críticas sociais, valia tudo na criação de canções fortes e extremamente ousadas para o seu tempo.

O Sol nas bancas de revista/Me enche de alegria e preguiça/Quem lê tanta notícia? (Alegria, alegria, de Caetano Veloso)

Defendendo que a renovação da estética musical – no ato de compor e de cantar – já era uma forma de manifestar socialmente, alguns artistas do movimento tropicalista fizeram de suas canções e criações um instrumento de protesto. Algumas letras foram, verdadeiramente, provocações de alto valor criativo contra o regime militar no qual o país vivia e com o qual a maioria dos artistas, definitivamente, não concordava:

O virador deste mundo
Astuto, mau e ladrão
Ser virado pelo mundo
Que virou com certidão
Ainda viro este mundo
Em festa, trabalho e pão
(Viramundo, de Gilberto Gil e Capinam)

No avesso do espelho
Mas desaparecida
Ela aparece na fotografia
Do outro lado da vida
Despedaçados, atropelados
Cachorros mortos nas ruas
Policiais vigiando
O sol batendo nas frutas
Sangrando
(Lindonéia, Caetano Veloso)

Outras músicas que marcaram profundamente os anos tropicalistas:

Tropicália (Caetano Veloso, 1968), Domingo no Parque (Gilberto Gil, 1968), Alegria, Alegria (Caetano Veloso, 1968), Panis et circencis (Gilberto Gil e Caetano Veloso, 1968), Atrás do trio elétrico, (Caetano Veloso, 1969), Cadê Teresa (Jorge Ben, 1969)

Aquele abraço (Gilberto Gil, 1969) e Geléia Geral (Gilberto Gil e Torqueato Neto, 1970)

Alguns discos emblemáticos lançados no período:

Tropicália ou Panis et Circencis – Caetano, Gil, Os Mutantes e outros. 1968, Caetano Veloso – 196, Louvação – Gilberto Gil, 1968 e A Banda Tropicalista do Duprat – Rogério Duprat, 1968

Do livro As muitas notas da música brasileira – nossas canções e o jeito brasileiro de ser, de Luís Pimentel. Editora Moderna, 2015;