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#fiquemosemcasa


Resolvi escrever um textinho pra passar o tempo. Saiu um textão. Me perdoem. Isso é que dá ficar em quarentena. Fraternalmente.


Hoje é sexta-feira. Mais de dez dias depois do mais severo confinamento ao qual me dedico com afinco, sento-me na varanda para ler o jornal. Matérias muito bem escritas, (aliás, meus aplausos aos jornalistas e a todos os responsáveis pelas Redações), dão conta de que alguns remédios contra o Covid-19 estão em vias de promover testes em humanos. Há chance.
Pela primeira vez em muitas semanas senti que pode sim haver uma maneira de livrar o mundo de um vírus invisível que está nos matando. A perspectiva me animou... entretanto, não foi suficiente para espantar meu pessimismo: nunca mais poderíamos sair livremente de casa – a quarentena seria eterna para os que pretendessem seguir vivendo.


Nunca mais cantar para quem sempre cantamos. Nunca mais uma cerveja no bar da esquina. Nunca mais haverá vida para quem sobrevive apenas de seu ofício. Nunca mais... tudo.


Cético que estou, imagino: haverá, isso sim, legiões de seres humanos que se acostumaram com a solidão e por ela se enamoraram. Amaremos uma não-vida. Seremos capazes até de crer que ela tem lá as suas vantagens – viva a ironia.


Eu vivo, você morre, assim será a vida para os que pensam que a vida seguirá passando. Tolos, a vida parou no exato momento em que o novo e mortal corona vírus surgiu lá nas profundezas do infinito.


Aturdido, me volta à cabeça a informação que li no jornal: após testes avançados, a ciência está perto de validar remédios, e quem sabe uma vacina, que poderão nos curar.


Eu creio na ciência. Entretanto, mesmo pessimista, rezo a Deus pela saúde de todos nós; ainda que ateu, dedico oferendas a Iemanjá; mesmo herege, suplico à sabedoria da Torá; clamo a Buda para que nos ilumine e conforte.


Olho pro céu e pressinto que estamos sendo reparados por olhos que haverão de nos redimir e salvar.


Aquiles Rique Reis
Abril de 2020