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Foxtrote


Por causa dela dancei muito foxtrote para inglês ver. Nos bailes, nas gafieiras, nos bares, dancings, salões ou estúdios de gravação, era a música que me embalava. Não eram os sorrisos femininos, os dengues, os trejeitos. Era a voz, uma certa voz de mulher que se chamava Calma. Eu vi essa gente bronzeada mostrando o seu valor e por isto mostrei o meu, compondo para ela, a dona da voz e do sorriso mais lindos que Deus abençoou. Eu compunha para ela, só para ela, nota por nota para ser notado por ela, desafiando os céus a mostrar a sua força e o Tio Sam a tocar um pandeiro. Nas noites mais escuras, sonhei com a paixão de nome Clara. Em busca do sorriso dela e da proximidade de Deus subi até o Corcovado. Meu coração vivia em guerra, pois também não sabia onde botar o desejo, e guerreie nas alturas, me atirando lá de cima em queda livre e música pura. Desafinei, não era a minha hora nem a nota certa. Tudo para chamar a atenção de uma inspiração de nome Causa. Por ela toquei pandeiro, cuíca e cavaquinho, fui menino travesso e menina medrosa, com o violão na marcação. Trouxe minha embaixada e o meu povo para sambar e cantar. Tudo para mostrar o quanto compunha bonito, mas só para a voz dela. Pelo prazer de viver, de flertar com a morte e sobreviver, salve o prazer, salve o prazer que me fazia reviver ao ouvir o estrondo de uma voz sobrenome Corte. Fiquei famoso, famoso. Vivi vistoso, vistoso. No palco, nas praças, dias santos, profanos e feriados. Pierrô no Carnaval. Anjo no Natal, pensando que todo mundo fosse filho de Papai Noel. Mas anoiteceu, o sino gemeu, a estrela não trouxe a mulher chamada Cauda. Apenas o ventre chamado Corda. Então tentei a forca e falhei, mais uma vez.  Por ela o moreno fez bobagem. Anunciaram e garantiram que o mundo ia se acabar, só para, enfim, eu me ver livre. Lambuzei-me em uvas até de caminhão. Por ela eu fingi sim, quando deveria rugir não. Por ela o amor ganhou um nome: Carmem. Por ela o pavor pecou em nome de um santo, de Assis, que não era valente nem forte, era anis. Daí para o formicida bastava a mistura. Com Guaraná, fetal e fatal, no banco de praça da Praça Paris. Foi isto, meu jovem, o que eu fiz.