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História do Rock no Cinema – parte 3: The Beatles


Essa pré-história dos Beatles seria conhecida apenas dos fãs mais ardorosos se não fosse por filme de 1995 chamado Os Cinco Rapazes de Liverpool (Backbeat), dirigido por Iain Softley. O enredo é centrado na figura de Stuart Sutcliffe (Stephen Dorff), o melhor amigo de John Lennon (Ian Hart). Retrata muito bem essa fase da banda, principalmente a amizade entre os dois colegas e o namoro de Stu com Astrid Kirchherr (Sheryl Lee). Mesmo com algumas imprecisões históricas, o essencial da história da banda está lá, o pouco talento que Stu tinha para tocar baixo e seu interesse por pintura, a irreverência de John, o primeiro contato com anfetaminas, a gravação como banda de apoio de Tony Sheridan. Quando conheceu a banda, Astrid namorava com Klaus Voormann, que depois iria desenhar a capa do disco Revolver e tocaria baixo na Plastic Ono Band, com John Lennon. Astrid bateu as primeiras fotos promocionais dos Beatles. Na época, eles queriam se parecer com Marlon Brando do filme O Selvagem, Stu queria parecer James Dean. Ela também foi responsável pela criação do corte de cabelo “beatle”. O filme deixa de fora um fato importante: foram John e Stu que criaram o nome da banda, juntando as palavras “Beetles”, que eram as motoqueiras do filme O Selvagem, com o “beat” da música. Stu morreu em 1962 de hemorragia cerebral, um dia antes dos Beatles chegarem para uma nova temporada em Hamburgo. A trilha sonora é composta por músicas que a banda tocava na época, em sua maioria covers de canções clássicas como Long Tall Sally, Rock & Roll Music e Carol interpretadas por uma banda especialmente montada para o projeto, incluindo gente como Dave Grohl (então no Nirvana), Thurston Moore (Sonic Youth), Dave Pirner (Soul Asylum), Mike Mills (R.E.M.) e Greg Dulli (Afghan Whigs).Essa não foi a primeira vez que o ator Ian Hart interpretou John Lennon, ele havia feito o filme The Hours and the Times em 1991, uma ficção sobre uma viagem de John e o empresário Brian Epstein para a Espanha em 1963.Existe um outro filme pouco conhecido sobre essa fase inicial da banda chamado Birth of the Beatles, de 1979, dirigido por Richard Marquand, o mesmo de O Retorno de Jedi. O que falta é um filme sobre a vida de Pete Best, que foi substituído por Ringo Starr às vésperas de gravarem o primeiro disco.A beatlemaniaEm 1964, a banda fez uma excursão nos EUA e uma célebre aparição no programa Ed Sullivan, abordada num DVD lançado recentemente. Também foi tema de um simpático filme dirigido por Robert Zemeckis em 1978 chamado Febre de Juventude (I Wanna Hold Your Hand), onde um grupo de jovens tenta assistir a banda ao vivo no Ed Sullivan Show.Após a excursão americana, a banda volta para a Inglaterra para estrelar o seu primeiro filme. O título inicial seria Beatlemania, mas foi alterado para A Hard Day’s Night (no Brasil, Os Reis do Iê-Iê-Iê) após Ringo proferir essa frase por acaso, dando a idéia para John compor a música. Havia pressão para que a produção fosse rápida porque acreditavam que a moda dos Beatles não iria durar até o fim daquele ano. O filme mostra a “rotina típica” da banda: fugindo dos fãs, fazendo apresentações, dando entrevistas, mas tudo com bom humor. O diretor Richard Lester imprimiu um ritmo que virou padrão nos filmes de rock, influenciando até a linguagem da MTV que iria surgir muito tempo depois. Não bastasse só isso, é um excelente filme, um dos melhores de toda essa série de artigos, não só um dos mais importantes. Entre várias curiosidades da produção, vale destacar duas: entre os vários fãs da banda que estão na platéia do programa de televisão há um adolescente chamado Phil Collins (ele mesmo!); uma das figurantes das cenas do trem era uma modelo chamada Pattie Boyd que depois iria se casar com George Harrison. Em homenagem à esposa, entre várias canções, compôs Something, do álbum Abbey Road. O melhor amigo dele, Eric Clapton, também apaixonou-se por Pattie, inspirando-o a compor as canções Layla e Wonderful Tonight, entre outras. Após separar-se de Harrison, Pattie casou-se com Clapton.O segundo filme dos Beatles é de 1965, o título seria Eight Arms to Hold You mas foi alterado para Help!, também com direção de Richard Lester. Uma ficção cômica, onde Ringo ganha um anel de um fã, aparece uma seita que quer matar quem estiver usando o anel e acaba perseguindo a banda em vários países. Na época da produção, os Beatles estavam mais interessados em fumar maconha do que atuar. Mesmo assim, o resultado foi bom.Psicodelia na telaAté o terceiro filme do quarteto, passaram-se apenas dois anos, mas muita coisa mudou na banda. Desistiram de fazer de shows, mudaram o visual e a atitude, o empresário Brian Epstein morreu, passaram a compor músicas mais elaboradas, experimentaram LSD e lançaram um disco que é um verdadeiro marco da história do rock, o Sgt. Pepper’s Lonely Hearts Club Band. Com total liberdade artística, o grupo resolveu fazer a sua própria produção, sendo eles mesmos roteiristas e diretores. Saíram andando num ônibus, com uma câmera na mão e sem nenhuma idéia na cabeça. O resultado foi Magical Mystery Tour, exibido no Natal de 1967 pela BBC, totalmente massacrado pela crítica e um fracasso de público. Um dos motivos dessa reação negativa inicial é que foi filmado em cores, mas exibido em preto e branco, muitas cenas perderam o sentido pois a cor era importante. O filme é uma viagem psicodélica, aparentemente sem muito sentido, mas de onde saíram ótimos clipes como o de I Am the Walrus. Alguns o consideram como uma obra de videoarte. Steven Spielberg disse que o filme era estudado atentamente na faculdade. Ou seja, Magical Mystery Tour merece uma boa revisão crítica para avaliar se é apenas uma besteira ou uma algo relevante.Pelo contrato feito por Brian Epstein, a banda ainda devia um filme. Quando estava vivo, tinha pensado num longa de animação. Paul queria algo ao estilo Disney, mas os produtores apareceram com a idéia de uma animação psicodélica. Ninguém da banda estava muito interessado nesse filme, mas havia o contrato a cumprir. Liberaram algumas músicas já editadas e gravaram mais algumas sem muito entusiasmo. Nem mesmo se interessaram em dublar os personagens do desenho animado, apenas apareciam em carne e osso no finalzinho. Mas quando viram o resultado pronto mudaram de opinião. Yellow Submarine , de 1968, ficara muito além da expectativa da banda. É considerado um clássico da animação, admirado por críticos e público, agradando pessoas de qualquer idade.O fimEm janeiro de 1969, a banda resolveu fazer um documentário chamado Get Back mostrando os ensaios e gravações de um disco até o retorno aos palcos num grande show. Mas nem tudo saiu como deveria, a banda já estava num processo de dissociação, com alguns já não agüentando mais os outros – e câmera captou tudo isso. John estava mais interessado na Yoko Ono e em heroína do que na banda. George sentia-se tolhido por Paul por não o deixar ter mais espaço nos discos. Paul muitas vezes parecia um ditador, o dono da banda. Ringo era o único que segurava as pontas. Como tudo deu errado, não haveria o grande show de retorno do grupo, o filme precisava de um encerramento. Então resolveram fazer um pequeno show no telhado da gravadora no horário de almoço que acabou virando um momento histórico. Foi a última vez que os Beatles tocaram juntos, causando problemas no trânsito, até que chegou a polícia e mandou parar tudo. Isso deve ter dado algum fôlego para eles, que gravaram ainda mais um disco, Abbey Road, antes do inevitável fim. O filme foi lançado em 1970, após o fim da banda, com o nome de Let It Be. Não fez muito sucesso de público não porque era ruim, mas por mostrar a banda de um jeito que os fãs não queriam ver, num momento que não havia mais alegria de tocarem juntos. Talvez por isso até hoje o documentário não tenha sido lançado oficialmente em DVD.No próximo artigo: carreira solo de cada beatle.A “História do Rock no Cinema” foi publicada primeiramente no site Omelete em 11/10/2005(www.omelete.com.br).