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HISTORINHAS JUNINAS


Saudades da roça de Zé Pilão


Chegou o dia dele, do santo protetor da fogueira, do milho assado, da canjiquinha, do bolo de fubá, do amendoim cozido. E, também, do quentão e do licorzinho, que ninguém é de ferro. Aqui no Sudeste é bem querido; mas no Nordeste, é até feriado (para o pessoal curar a ressaca da noite anterior, dedicada aos arrasta-pés), ele é amado, reverenciado e esperado o ano inteiro. Inspirador dos compositores, o São João já rendeu muita música bonita. De Luiz Gonzaga a Braguinha (passando por Dominguinhos, Xangai, Targino Gondim, Maciel Melo, Alceu Valença, Geraldo Azevedo, Nando Cordel...), o repertório é vasto e é lindo. Minha canção junina preferida é uma que diz assim (de Gonzagão e Guio de Moraes):

“Ai, São João, São João do carneirinho, você é tão bonitinho / Fale lá com São José, peça pra ele me ajudar / Peça pro meu milho dá vinte espiga em cada pé”.


Aqui vão duas historinhas inspiradas na data:


Foi o inocente Dorival quem causou a separação dos pais – Dora e Lourival, como a combinação denuncia –, em noite de São João. Dorinha jogou todo o capricho de mãe na fantasia do caipira-mirim: costeletas e bigodinho feitos com carvão, canino empretecido no lápis crayon, remendos de chita colorida na calça e na camisa. Tava uma graça.

Enquanto isto, Lourival enchia a moringa com licor de jenipapo, falando besteiras e gargalhando com os amigos em volta da fogueira. Orgulhosa que só vendo, Dora levou o menino até a calçada, para o paizão conferir o trabalho:

– Tá bonito, não tá, Louro? Um verdadeiro caipira.

E o jumento insensível, entre um arroto e outro:

– Vai lavar a cara desse menino. A festa é de São João, não é carnaval.

Dora usou a lenha da fogueira para incendiar a casa, depois sumiu no mundo. Levando o pequeno Dori, que não entendeu nada.



Depois de 30 anos de casamento arrastado, resolveram exercitar o romantismo numa noite de São João. Colocaram as cadeiras na calçada e ficaram a contemplar o céu de junho:

– Olha, Nestor, que lindo balão. Ganha o céu e as alturas, carregando com ele mensagens de paz e de prosperidade.

Um brinde à resposta do velho:

– Deixa de ser tola, Lucila. Qualquer um vai às alturas, quando ainda se tem fogo no rabo.