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Ilhas sem fronteiras


Das Ilhas Mestiças foi idealizado e gravado pelo próprio Lessa, que convidou o baterista Xande Figueiredo, o baixista Luis Louchard, o violonista Rogério Souza e os percussionistas Jaguará, Marcos Esguleba, Bernardo Aguiar, Celsinho Silva e Jorginho do Pandeiro. Além de Eduardo Neves (sax e flauta), Zé Carlos Bigorna (saxes), Nailson Simões e Jessé Sadok (trompetes). E mais o violonista Gabriel Improta e o acordeonista Chico Chagas. Trouxe também o cantor e trompetista Julio Padron e o percussionista Jose Izquierdo, ambos cubanos; os caboverdianos Toi Vieira, pianista, e Vaiss, guitarrista; e os cantores portugueses Janita e Vitorino Salomé.Das Ilhas Mestiças é um álbum com composições de Lessa (exceção a “Burrito”, que tem parceria de Eduardo Neves). Ele também escreveu os arranjos (exceções a “Burrito”, que tem arranjo de Eduardo Neves, e “Rala Coxa”, cujo arranjo ele dividiu com Rogério Souza).  Inspirado pelos ritmos brasileiros que embalam sua musicalidade, Rodrigo Lessa apontou a proa rumo a África e ao Caribe e foi devagar, devagarzinho, rumo a mares e marés distantes. Feito timoneiro experiente, para navegar ele supriu sua nau de sonoridades repletas de congas e cinseros, bandolins e trompetes, cavaquinhos e cantos de toda parte, cercados por oceanos sem fim que continuam para muito além e bem aquém da linha do Equador – por sob as névoas do anoitecer, por cima de divisões lingüísticas, acima de ditaduras à esquerda e à direita. Cruzamento de sons que alimentaram sua pesquisa cheia de encantamento a rodo, a gosto.O CD abre com “Calango Mindelo”. Do poderoso naipe de metais destaca-se o trompete com surdina tocado por Julio Padron, e sente-se o que está por vir: malemolência sensual, brasilidade e africanidade a torto e a direito. A levada de salsa cubana se (com) funde com a do chorinho carioca. Pronto! Está dada a senha para a miscigenação irrestrita, marca registrada do trabalho gravado após profícua e respeitosa jornada.A segunda faixa, “De mão cheia”, tem o sabor das noites cariocas e, ao contrário da primeira, conta com o toque da bateria. E é ela quem pontua a conversa das cordas do bandolim com o violão. Íntimos, eles trocam notas musicais embaladas em preciosa harmonia. Aliás, que belo criador é Rodrigo Lessa! “Suave Dengo” é samba desses de gafieira. Para encaixar ainda mais cadência no suingue, há o piano de João Donato. Tudo com direito a citação do clássico “A Rã”, dele e Caetano Veloso.E assim, em ritmos rodeados por águas que banham nossas músicas repletas de cantos tão distantes, mas tão próximos entre si, a festa segue. E tome de ajuntar concepções musicais. E haja ilhas para se desfazer fronteiras. Rompidas as barreiras, entregue à façanha de produzir uma grande e internacional identidade sonora, Rodrigo Lessa chega à faixa seis, “Morabeza” – que significa “gozar a vida, bem-estar, boa conversa”. Ora no violão, ora no bandolim, ele ergue uma ilha de tranqüila simplicidade. Cativante beleza a demonstrar que nem só de ritmos fortes se faz um bom baile. A seguir, como que voltando quente à linha dançante, predominante em Das Ilhas Mestiças, Lessa divaga na bela “Sonhos”, tocada ao piano, até que o ritmo volte firme, forte, precipitando o que ainda mais virá: festança da música e de músicos que, embora ilhados, criam e parecem nascidos no mesmo quintal da mesma aldeia. Aquiles Rique Reis, vocalista do MPB4 e autor de O Gogó de Aquiles, ed. A Girafa. Seus textos são publicados semanalmente no Acontece na  no Diário do Comércio (ACSP), Meio Norte (Teresina), A Gazeta (Cuiabá), Jornal da Cidade (Poços de Caldas) e Brazilian Voice (EUA). No rádio, sempre às segundas-feiras, das 15h às 16h, "O Gogo de Aquiles" vai muito bem, obrigado. Você poderá escutá-lo (no Rio de Janeiro) sintonizando diretamente na Rádio Roquete Pinto, ou (fora do Rio) na internet: www.fm94.rj.gov.br .