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Janelas abertas para o futuro (aplauso)


Peço licença para fazer deste comentário um relato histórico. Portanto, descaradamente, sem um pingo de sentimento de culpa, vamos ao que interessa neste momento.”

E assim, sem nenhum recato, prossegui relembrando a biografia do Quarteto em Cy – As meninas do Cy (Imprensa Oficial do Estado de São Paulo) –, escrita por Inahiá Castro. História que, tantas vezes, ouvi traduzindo e revelando o Brasil contemporâneo.

Na semana passada ainda levei uma “bronca” de um leitor tão imaginário quanto atento: “Ei, Aquiles, e o comentário sobre o disco novo das Cys? Esqueceste?”Ao que eu respondi: “Xiiii, confesso que me perdi por entre as frestas da memória...” E disse mais, que esta semana me ateria a Janelas Abertas, o CD recém-lançado pelo Quarteto em Cy. Então vamos a ele.
Ao ouvir o álbum de Cynara, Cyva, Corina e Keila, ficou claro que, para um CD ser exemplar, não depende de produções espalhafatosas. Em sua simplicidade – aqui sinônimo de “menos pode ser mais” – brotou um disco de alta qualidade, em que brilha um seleto time de músicos, arranjadores vocais, instrumentais e regentes.

Participações especiais revelam a cumplicidade entre todos que estiveram próximos do Quarteto em Cy, no momento em que, após dez anos sem gravar, elas comemoram 52 anos de música. Uma carreira respeitosa a um repertório de alta qualidade, a um vocal e a um uníssono que fizeram delas gigantes e poderosas no assunto.

Convém destacar a qualidade dos solos vocais que Cynara, Cyva, Corina e Keila dividem irmãmente. Vocalistas que se entregam a interpretações inovadoras, cantadas com excelência.

“Querelas do Brasil” inicia com o pandeiro e a cuíca de Pretinho da Serrinha. As Cys dão ainda mais vigor ao samba famoso de Maurício Tapajós e Aldir Blanc.

Com um intermezzo intercalando vocal e uníssono, o Quarteto em Cy atiça meus sentidos. Ao levar para o final, o sax de Dirceu Leite ganha destaque.“Tristeza e Solidão” (Baden e Vinícius), com arranjo vocal de Cynara, abre com um show do violão de Marcel Powell. Com voz firme, plena de emoção, a entrada de Zélia Duncan é novo show. A percussão solta os bichos pra cima do afro-samba, e eles se levantam para saudar as vozes que acendem os versos do poeta.“Janelas Abertas” (Tom e Vinícius) é o grande momento do CD. Meu Deus! Com arranjo vocal de Cynara, apenas as quatro Cys, o piano (Cristovão Bastos), a bateria (João Cortez) e o baixo (João Faria) são capazes de emocionar os mais estúpidos seres humanos.Encerro este comentário com o que escrevi no texto anterior: “Abrir janelas, como hoje faz o Quarteto em Cy, é belo por confrontar o desconhecido, que pode conter encantos; é belo por abrigar as graças do mundo que podem mostrar novas formas de beleza”.


Aquiles Rique Reis, vocalista do MPB4