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Leia o livro, veja o streaming


A recente greve de roteiristas do cinema e da televisão norte-americanos deixa claro que, à parte os problemas trabalhistas, mais do que recorrentes na maioria dos arranjos sociais conhecidos, existe uma falta de imaginação criativa há tempos rondando o setor. Entre as principais matérias-primas da indústria audiovisual da atualidade são as adaptações de obras literárias. Além das constantes novas interpretações de romances clássicos, o cinema tem buscado inspiração em best-sellers do momento ou de um passado recente, como o divertido Travessuras da Menina Má (Alfaguara, R$ 70), do peruano Mario Vargas Llosa, ganhador do Nobel de Literatura de 2010.


O divertido romance, narrado pelo “menino bom”, o tradutor Ricardo, que deixa Lima aos 20 anos para viver em Paris, conta didaticamente as mudanças políticas no Peru pelos olhos apaixonados do protagonista. A Menina Má tem um nome a cada fase – ou a cada companheiro e país – de sua trajetória. O casal se conhece em Miraflores, bairro limenho onde o escritor se criou, quando a menina se passa por chilena para o grupo de jovens de classe média alta que a acolhe. Desaparece do dia a dia dos adolescentes quando é desmascarada — não nasceu nem viveu no Chile — e só vai ressurgir para Ricardo em Paris, quando atende pelo codinome Arlette, na célula comunista revolucionária que pretende derrubar a ditadura militar peruana. Arlette vai para Cuba, e, sob novas denominações, volta a conviver com Ricardo, encarnando dondocas na França e na Inglaterra, com diferentes maridos, ou a amante de um contraventor japonês, em Tóquio.


A história de amor percorre quatro décadas e reflete as opções ideológicas do próprio Vargas Llosa, que flertou com o comunismo na juventude, exilou-se durante a ditadura militar em seu país, retornando para concorrer à presidência por um partido de direita, mantendo, no entanto, uma crítica veemente aos regimes ditatoriais latino-americanos. A Menina Má dá golpes em quase todos os homens com quem se relaciona e, como qualquer anti-heroína romântica clássica, sofre humilhações que destroem sua saúde ao se apaixonar por um canalha. A punição final, a exemplo de Emma Bovary ou Anna Karenina, seria o desfecho clássico para a redenção de uma ‘mocinha’ tão detestável quanto encantadora. A telessérie mexicana, com participação de Vargas Llosa no roteiro e um elenco argentino, espanhol e peruano, está no Globoplay.


Sem qualquer concessão ao machismo inerente nas obras de Vargas Llosa, A outra garota negra (Intrínseca, R$ 69,90), romance de estreia da norte-americana Zakiya Dalila Harris, também chega ao streaming pelo Star +, com a autora entre os roteiristas. Lançado em 2021, o livro transita entre o thriller psicológico e a exposição do comportamento assertivo da população negra norte-americana para firmar posição dentro de uma sociedade preconceituosa através da animosidade entre a protagonista Nella e Hazel, a “outra garota negra”, decidida a crescer na empresa em vez de fazer frente aos funcionários racistas.