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Leila Pinheiro e Eduardo Gudin, vivos


Para lançar Pra Iluminar (Tacacá Music), os dois gravaram ao vivo o show realizado no Teatro Fecap-SP. Com eles estavam Zeca Assumpção, baixo acústico; Celso Almeida, bateria e percussão; Guello, percussão – os três são responsáveis pela verdadeira locomotiva sonora revelada no pulsar dos grandes sambas de Gudin –; Milton Mori, cavaquinho e bandolim; Teco Cardoso, flauta e saxes; Julio Ortiz, violoncelo; e Fábio Torres, piano. E, só para gravações adicionais no CD, trouxeram o surdo de Pirulito. E, como se não bastasse, Gudin toca violão e Leila, piano. Grande cantora, ela realça suas qualidades técnicas, afinação, divisão e respiração, com um sentimento que contagia os que a ouvem. Certamente isso enlevou o palco. A dinâmica instrumental de todo o grupo reflete, em primeiro lugar, é claro, o que faz de Eduardo Gudin um dos expoentes da música brasileira: a qualidade de suas composições; em segundo, mas não menos claro, a firmeza da voz de uma grande intérprete. Ambos irmanados na benção alegre de se saberem contemporâneos e dando graças a Deus por assim ser.Gudin é um ourives. A ele interessa lapidar cada acorde de sua música, batear cada solução harmônica para suas frases melódicas, polir cada verso de sua poética (no álbum, seis faixas têm letra e música só dele). A impressão que se tem é que, pronta a canção, ele sempre volta ao início para melhor avaliar o que acabou de criar. Um perfeccionista que revê à exaustão cada achado harmônico (tantos!), em busca de aprimorá-los. Os sambas dominam Pra Iluminar. Neles, Gudin se faz bamba e iguala-se aos melhores do gênero. Seja nos pouco conhecidos, mas cheios de balanço, como “Chorei” (Gudin, Mauro Duarte e Paulo César Pinheiro), nos lentos e belos feito “Luzes da Mesma Luz” (com Sérgio Natureza) ou nos clássicos “Mente” (com Paulo Vanzolini), “Paulista” e “Verde” (com Costa Neto), vê-se o talento de Eduardo Gudin.Grande pianista, Leila Pinheiro se acompanha em dois momentos mágicos: “O Amor Veio Me Visitar” (Gudin e Roberto Riberti) e “Obrigado” (Gudin). Quanto vigor vocal, quanta emotividade, Deus do céu!  Mas o auge dessa emoção se dá quando Leila canta, de forma precisa, intensa, “Mordaça” (com Paulinho Pinheiro), samba lento, de força incomum... (Pausa para um copo d’água, vã tentativa de amenizar o baita nó que me aperta a garganta).“Velho Ateu” (com Roberto Riberti) começa com Gudin cantando pela primeira e única vez no CD. Após uma modulação de tom, Leila assume o belo samba e o eleva, quando todos juntos ratificam os versos de “Mordaça”: “O importante é que a nossa emoção sobreviva (...)/ É resistir ao inexorável/ O coração fica insuperável/ E pode em vida imortalizar”.Assim, uma intérprete, um compositor e oito instrumentistas pronunciaram um sonoro “sim” à música. Aquiles Rique Reis, músico e vocalista do MPB4