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Literatura medicinal


Pertinho de minha farmácia doméstica está Os hipocondríacos – Vidas atormentadas (Tinta Negra, R$ 40,90), o intenso relato do jornalista Brian Dillon sobre artistas e cientistas que sofreram de um mal maior do que as doenças.Os sintomas descritos por Charlotte Brönte para males sem qualquer explicação médica constituíam a doença em si, assim como a paranoia do pintor Andy Warhol com sua aparência física e saúde eram de hipocondríacos. Pessoas que levaram o temor de doenças ao extremo, como Michael Jackson, o isolamento de Marcel Proust, Charles Darwin e Florence Nightingale demonstrariam que todos sofriam da “paixão pela própria doença” – o que, no entanto, não os impediu de deixarem um legado cultural importante para a Humanidade.  Seria a hipocondria um determinante na estrutura psíquica desses pensadores?

A angústia também assolou outras mentes talentosíssimas não retratadas por Dillon. Virginia Woolf, que se suicidou aos 59 anos, depois de diversos surtos depressivos, conseguiu encontrar serenidade para compor uma literatura sofisticada e relevante. Seu maior sucesso de vendas em vida foi Ao Farol (Autêntica, R$ 49), que leio numa belíssima e cuidada edição, com estudos sobre o romance, sua montagem e notas de tradução que detalham particularidades do texto. O enredo traz uma família burguesa britânica em férias na costa da Escócia, hospedando convidados ao longo de vinte anos. Mais do que uma trama sobre a
evolução social na época, antes e após a Primeira Guerra Mundial, Woolf mostra a visão pessoal de alguns personagens, cujas observações constroem a narrativa densa.  

Desvios de personalidade não faltam em histórias policiais – e nem sempre se restringem aos criminosos, mas assolam alguns investigadores, cuja arrogância é tão notável quanto a competência em desvendar mistérios. A este grupo presunçoso juntou-se o policial sueco Evert Bäckström, criação do criminologista Leif GW Persson, que chega ao Brasil com o intrigante título Linda, como no caso do assassinato de Linda (Intrínseca, R$ 39,90). O machista um, autocentrado e convencidíssimo de sua própria genialidade Bäckström  comanda a investigação sobre o assassinato de uma colega da Academia de Polícia, Linda Wallin, cujo
corpo é encontrado com marcas de sevícia. O estilo seco e ágil de Persson já lhe rendeu  diversos prêmios em literatura policial para autores escandinavos, entre eles o prestigiado Glass Key Awards.