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MARTHA ROCHA DEIXA RASTRO NA MPB


Martha Rocha foi um ícone nos anos 50. Sua beleza estonteante começou a se celebrizar no Hotel Quitandinha (Petrópolis) ao ser eleita Miss Brasil em 1954, iniciando um dos mais prestigiados concursos de toda a história que registra a beleza da mulher brasileira.


O júri que a elegeu era composto por alguns intelectuais de ponta, entre os quais o poeta Manoel Bandeira que declarou “estou fulminado pelos dois olhos verdes da baiana, original até por isso, porque quando foi anunciada a representante da Bahia na passarela estava a imaginar uma mulata opulenta. Eis que aparece uma filha de alemão arrebatadoramente deslumbrante”.


O sucesso de Martha Rocha foi imediato no Brasil e logo depois nos Estados Unidos, quando perdeu o título por uma americana sem graça, Miriam Stevenson. O júri, alegando duas polegadas a mais nos quadris da baiana, provocou uma onda de nacionalismo, usado pelas esquerdas, que já acusava os Estados Unidos de imperialismo e de apropriação do nosso petróleo.


Ao chegar ao Rio, foi recebida em carro aberto e desfilou de maiô na orla carioca para o deleite da população.


Ainda nos Estados Unidos, foi convidada por Hollywood para participar de imediato em papéis de mulher excepcionalmente bonita. Recusou todos os convites, alegando saudades da Bahia.

Em outubro do mesmo ano, 1954, sua popularidade era de tal ordem que Martha não escapou da vertigem do carnaval de 1955. Convidada pelo compositor Braguinha para gravar dois discos em 78 RPM, um deles de fato foi celebrado nas ruas e nos salões daquele carnaval: a marchinha “Duas polegadas” de Pedro Caetano e Alcyr Pires Vermelho (“por duas polegadas a mais/ passaram a baiana pra trás/ por duas polegadas, e logo nos quadris/ tem dó tem dó seu juiz”), cujo lado B era um baião “Rio meu querido” também de Pedro Caetano agora com Carlos Renato. O segundo disco 78 RPM foi “Abraço Fraternal”, que ela gravou ao lado de Emilinha Borba. O lado B intitulou-se “E voltarei a ser feliz”, também de Pedro Caetano. Ambos com arranjo de Radamés Gnattali.


O fato de fazer parceria com Emilinha propiciou a união das duas mulheres mais celebradas daquela época. Ambas, popularíssimas, participaram intensamente de todos os programas radiofônicos de então, sobretudo o de Cesar de Alencar, que tinha como estrela principal exatamente Emilinha Borba.


A carreira fugaz de Martha na MPB se encerraria logo depois de seu casamento com o banqueiro Álvaro Piano, que morava em Buenos Aires na época.


Há dez anos, Martha Rocha resolveu sair de cena e se retirou para Volta Redonda, onde envelheceu tal como uma Greta Garbo, longe dos fãs (que continuavam a lhe celebrar a beleza, já diluída pelo passar dos anos).


Os que a conheceram no auge, anos 50, consideraram a baiana como a mulher mais bela do Brasil. Martha Rocha morreu em Niterói, tendo vivido em asilo muitos anos.


Ricardo Cravo Albin