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Mentes inquietas


Essas mulheres que abrem mão das carreiras para assumirem seus papeis submissos no matrimônio foram imaginadas na primeira metade do século XX e pouco diferem das “mocinhas” dos romances da atualidade. Toda a neurose que a revolta contra uma vida devotada ao engrandecimento dos maridos acaba transformada na depressão descrita pela americana Charlotte Perkins Gilman, que, em 1892, lançou O papel de parede amarelo (José Olympio, R$ 29,90), somente agora publicado no Brasil. Uma mulher sofre um colapso nervoso e é levada para uma casa de campo, onde acompanha os movimentos das figuras das estampas que recobrem as paredes de seu quarto. O ambiente opressivo e aterrador como num conto de Edgar Allan Poe não apenas cria uma metáfora para a vida das mulheres de classe média da época, mas descreve uma situação que a própria autora experimentou, antes de divorciar-se do marido e dar a ele a guarda da filha, passando a se dedicar à luta pelos direitos iguais entre os sexos. Considerado o mais antigo texto feminista já publicado, a novela demonstra, à perfeição, a angústia de uma mulher “sem função” dentro do lar, uma vez que a cunhada assume os encargos de direção da casa e cuidados com a família.

O onírico também domina Distância de resgate (Record, R$ 34,90   ), romance de estreia da argentina Samanta Schweblin, que já se notabilizara ao lançar coletâneas de contos, conquistando diversos prêmios para escritores de língua espanhola. Hospitalizada, Amanda tenta compreender o que lhe aconteceu para ser internada, contando com a ajuda de um menino que escapa da morte depois que uma curandeira divide sua personalidade com a de alguém desconhecido. O comportamento do menino depois da “cura” atemoriza sua mãe, Carla, que mora num sítio perto da casa de veraneio onde Amanda e a filha Nina passam férias. As descobertas se sucedem a cada página, e, como em tantos outros escritos argentinos contemporâneos, os problemas que assolam o planeta são elementos  da vertiginosa narrativa.

A ambientação sombria e a inquietação também rondam os personagens de Temporada de acidentes (Intrínseca, R$ 29,90), da irlandesa Moira Fowley-Doyle. Estranhos e trágicos acontecimentos acometem uma família, todos os anos, durante uma semana no mês de outubro. Isolados em casa, quando possível, eles só saem à rua protegidos por diversas camadas de roupas, tendo cautela a cada movimento para evitar quedas e machucados ou até a morte. Voltada para o público adolescente, a trama enfeitiça leitores de qualquer idade.